quinta-feira, 21 de abril de 2016

VIDAS - Manuel Granchinho: Um benfeitor de Nisa

O papel decisivo de Manuel Granchinho e de José Vieira da Fonseca na construção do Cine Teatro de Nisa já aqui, por diversas vezes foi devidamente evidenciado e enaltecido.Hoje, transcrevemos um artigo de José Francisco Figueiredo, publicado em 1948 no periódico "Correio de Portalegre" e no qual exalta as qualidades e o bairrismo de Manuel Granchinho.
"A sabedoria é fértil em afirmações lapidares expressas na concisa eloquência de conceituosos adágios. Para as mais diversas emergências, sejam, casos, factos ou personalidades a focar, há sempre um rifão, uma sentença moral a interpretá-los, a fundamentá-los, estigmatizando uns, exaltando outros.
É um deles que hoje me serve de grato tema para este comunicado.
É corrente ouvirmos dizer: Depois de um bem, outro vem...
Eis uma asserção que bons fados da minha terra, permitiram víssemos confirmada, com exuberância, nestes últimos tempos.
Ainda não se extinguiu por completo o entusiasmo rumoroso com que a multidão ovacionou há dias a figura veneranda do benemérito D. António Lobo da Silveira. Ainda os corações agradecidos de todos os nisenses pulsam, comovidamente, depois de sobre eles se difundir, em extremos de abnegação, a magnanimidade do íntegro fidalgo que se fez pobre para que o não fossem quantos em Nisa envelhecem sem amparo, após uma vida inteira de cruciante labor. Ainda não se entibiou o ardor das preces, com que todos nós, os que no íntimo do peito sentimos a labareda da fé, sufragamos a alma do Dr. Lopes Tavares e de sua bondosíssima filha, a Senhora D. Palmira Lopes Tavares Lobo da Silveira. Ainda o gozo deste Bem está palpitante no espírito de cada um de nós... e já outro aí vem!
Agora é a generosidade de um prestantíssimo nisense que, mais uma vez, sabendo ser rico, quis honrar o seu nome e servir a sua terra.
Refiro-me ao opulento e activo industrial Senhor Manuel Granchinho, que na capital, onde a fortuna coroou do melhor êxito a sua incansável persistência no trabalho, rejubila sempre, amoravelmente interessado, com o progresso e elevação da sua querida Nisa.
E foi sempre assim. Está na memória de todos os seus patrícios a liberalidade com que Manuel Granchinho contribuiu para em Nisa se erigir a magnífica casa de espectáculos que é o Cine Teatro. A sua conta, na importância de cem contos, e o incitamento e facilidades concedidas para se levar a efeito tal melhoramento, foram decisivos. Se não fora ele, Nisa ainda hoje curtiria saudades do seu antigo teatro, que a incúria e o desleixo deixaram arruinar.
De então para cá, o seu generoso contributo jamais faltou, quando lhe foi solicitado para qualquer progressivo empreendimento.
Aquando da homenagem ao benemérito Dr. Francisco Miguéns, a verba com que subscreveu só teve uma a superiorizá-la.
E, como se tudo isso não fosse bastante para impô-lo ao apreço desta população, apenas tomou conhecimento do rasgo de filantropia com que D. António Alvito quis distinguir a nossa terra, admirou, como todos nós, a grandeza moral de tal gesto e abriu, no seu coração de devotado bairrista, um lugar privilegiado para acarinhar os benfeitores.

Mas não se limitou a admirar e venerar. Entendeu, e muito bem, que todos temos obrigação de contribuir, quanto possível, para que a Fundação Lopes Tavares seja, dentro em breve, uma obra de perfeita beleza moral e um documento perpétuo de civismo e caridade dos fundadores e da gratidão dos beneficiados.
E assim, cônscio dos seus deveres de nisense e norteado pelos impulsos do seu nobre sentir, quando soube que o palácio, destinado a recolher os seus conterrâneos alquebrados pela velhice e pelo trabalho, carecia ainda de dispendiosas obras de pinturas, comunicou imediatamente aos directores do Asilo o propósito de fornecer gratuitamente os materiais indispensáveis.
Esta oferta, que deve atingir o montante de algumas dezenas de milhares de escudos, foi tida na devida consideração pela gerência daquele estabelecimento de caridade e, por tal, merece o inteligente e brioso industrial os maiores encómios e o mais rendido reconhecimento.
Por mim, com jubiloso e enternecido orgulho, continuarei a ter por Manuel Granchinho a estima e predilecção, que nunca regateio aos bons filhos de Nisa.
Que Deus o cumule de todas as graças e de todas as venturas.
* J. Figueiredo - in "Correio de Portalegre" – nº 133 – 18/3/1948