É
assim todos os anos, nas véspera e no dia 1 de Novembro (Dia de Todos os
Santos), no reviver de uma tradição que durante anos esteve quase a
extinguir-se e que agora, com novos cambiantes, se renova, emprestando às ruas
da vila o colorido de outros tempos.
Grupos
de crianças vão de rua em rua, sacolas na mão e, tal como antigamente, pedem a
"Esmolinha dos Santos", ou, noutras terras, o "pão de
Deus".
Nas
bolsas e sacolas já não "caem" os feijões pretos, as passas de figo,
os frutos secos (nozes e castanhas) ou as romãs. Mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades, isto é, os hábitos e os gostos. As guloseimas, os chocolates,
bolos, e outros bens alimentares são as ofertas ou "esmolas" de cada
casa onde ainda se preserva a lembrança da "Esmolinha dos Santos".
Transcrevemos, a propósito, o texto de José Francisco Figueiredo que descreve a
forma como este dia era vivido em Nisa na primeira metade do século passado.
O
Dia de Todos os Santos *
"A
comemoração dos Santos, prescrita pela Igreja em 1 de Novembro, tem nesta vila
carácter simultaneamente festivo e lutuoso.
Como
no Domingo de Páscoa, as ruas povoam-se de crianças que a casa dos padrinhos
vão pedir o bolo. E, de porta em porta, ranchos de mulheres e garotos andam
todo o dia a pedir esmola dos Santos, enquanto alguns matulões, embriagados,
importunam com a mesma litania quem suponham dispostos a fomentar-lhes o vício.
Também
costumam os rapazes e raparigas – quando o dia é pleno das belezas do veranito
de S. Martinho – ir à Senhora da Graça, S. António ou outro local próximo, onde
fazem os seus magustos e jovialmente se divertem.
Mas
o fúnebre dobrar dos sinos – que começa logo depois do meio-dia e se prolonga
por toda a parte – espalha no ambiente a tristeza de mestas recordações com a
saudade dos Fiéis Defuntos, cuja comemoração se faz no dia seguinte e os
campanários vão anunciando.
O
culto pela memória dos antepassados está profundamente radicado na alma de
todos os nisenses, motivo por que, no Dia de Finados, as três missas que,
segundo o rito, os eclesiásticos podem celebrar, são extremamente concorridas.
Também
nesse dia, e de ano para ano com maior incremento, grande parte da população
visita o cemitério a fim de cobrir de flores a sepultura dos seus queridos
mortos."
*
José Francisco Figueiredo - Monografia da Notável Vila de Nisa (1956)