Uma...
duas... três... quatro... cinco... seis badaladas que, poucos segundos depois,
o relógio repete matematicamente.
A
aurora começa a raiar e, com o seu advento, um novo dia de trabalho se inicia.
Em
casa, as mulheres lavam a cara e fazem o “almoço”
Em
seguida, já vestidos com o fato de “trazer”, chegam-se à lareira e tomam a
refeição com apetite voraz.
Vão para o trabalho.
É
que o Relógio da Torre é o “manageiro” supremo de toda a população, a única
entidade a quem todos obedecem, sem a mínima hesitação.
Desde
o rural ao médico, passando pelo padre e pelo professor, todos pautam a sua
vida por aquele enorme amontoado de cordas, balanceiros, carretos, mostrador e
ponteiros..
E,
que seria das gentes se não existisse aquele amigo, sempre pronto a dizer-nos
“às quantas andamos”?
Lá
longe, no campo, é ainda o velho relógio, cujo som forte e amigo se faz ouvir
por muitos quilómetros em redor, quem avisa os camponeses da hora do “jantar”,
da hora da “sesta”, da hora da “cigarrada” e, finalmente, do momento de
“soltar”.
Há-os
de vários tamanhos e feitios, com um, dois, três ou quatro mostradores,
iluminados ou não, conforme a época de construção ou restauro.
Dos
mais curiosos que existem na nossa província, um deles é o da antiga Torre de
Cabeço de Vide, concelho de Fronteira e Distrito de Portalegre.
O
seu mostrador é de mármore branco e nele se vê gravada a data de 1570. Tem
apenas um ponteiro, que representa uma mão com o dedo indicador apontando as
horas.Por
vezes eram construídos nas frontarias das igrejas, como o da Sé de Portalegre
e, mais geralmente, no edifício da Câmara Municipal.
O
da vila de Nisa, que tem um som dos mais bonitos que tenho ouvido, ergue-se
numa torre da chamada Porta da Vila, antiga entrada da povoação, quando esta
era ainda amuralhada.
Ainda
que hoje em dia tenha relógio, de bolso ou de pulso, o Relógio da Torre
continua sendo imprescindível, principalmente nas vilas, aldeias e pequenos
aglomerados populacionais.
João
Ribeirinho Leal in “Motivos Alentejanos”