sábado, 30 de abril de 2016

COISAS DA CORTE DAS AREIAS: Os ignorados menires da Senhora da Graça e do Espírito Santo

No “Jornal de Nisa” de 5 de Julho de 2000, escrevia o seu director, Mário Mendes, sobre o menir do Patalou “(...) e a falta de intervenção que se impunha e que teria como objectivo principal devolver o menir à posição em que foi inicialmente – há milhares de anos – colocado” deixaram ao abandono este elemento patrimonial de grande importância.
“Um pouco mais de quatro metros de comprimento e um de diâmetro”, prosseguia o articulista, “são as dimensões deste gigante granítico dormindo a sono solto e profundo, um exemplar que noutras latitudes, não duvidamos, os responsáveis municipais logo tratariam de erguer e divulgar, potenciando uma mais valia monumental e arqueológica em valores turístico e cultural, acrescidos.”
Contrastando, duas semanas antes, a “Folha de Montemor” noticiava: “ O menir do Tojal (Montemor- o - Novo) encontrado no princípio do ano 2000 foi posto na posição original no dia 22 de Junho” desse mesmo ano. Por cá, vão passados já, uma dúzia de anos e nada acontece.
Para estas “coisas” não há tempo nem verba. O reposicionamento do menir do Patalou não será, como lá fora, feito simbolicamente envolvendo as crianças das escolas, puxando as cordas, talvez por falta de “corda” no relógio parado de quem devia agir e não age.
Como compreender o desprezo a que, entre nós, o património megalítico é votado?
Há milhares de euros para peças que não atraem turismo e nada há para pôr de pé os cinco menires existentes nas freguesias da Senhora da Graça e do Espírito Santo, capazes de por si só trazerem gente a visitar-nos e constituírem uma mais valia para o concelho a todos os níveis?
Será que terão frequentado outra escola os autarcas alentejanos que nos demonstram a todo o momento o apreço que nutrem por este tipo de património?
Amiúde somos surpreendidos com notícias da descoberta, aqui ou ali, de mais um menir.
Dos relatos, um dos que nos surpreenderam agradavelmente foi publicado na “Gazeta do Interior”, a 5 de Agosto de 2009 e referia que um monumento megalítico fora encontrado perto da cidade do Fundão.
Tratava-se de uma estátua menir, que após removida ficou a enriquecer o Museu Municipal de Arqueologia da cidade. O director do Museu, realçou, a propósito, que a descoberta, “é um precioso elemento megalítico que vem reescrever a pré-história e a proto-história da Beira Interior, uma vez que não temos paralelos de elementos deste género na região”:
Sublinhou, ainda que o proprietário do terreno foi “muito solícito e generoso, pelo que a peça foi removida pelo Museu e pelo IGESPAR quase em tempo recorde, estando já no espaço museológico”.
Generosos são também os proprietários nisenses onde “dormem” os nossos menires, mostrando-se sempre disponíveis para facilitarem o que de melhor se entender para a sua preservação e divulgação.
O que num lado se fez em tempo recorde, aqui já se leva anos. E não deixa de constituir surpresa maior, o facto de o menir ter sido deslocado do local de origem para a cidade do Fundão. Em Nisa, tal procedimento é “crime”, passível de julgamento e sentença condenatória, segundo doutas opiniões.
São mal queridos os menires no nosso concelho. Dê o leitor uma espreitadela ao último desdobrável turístico editado sobre o concelho de Nisa, que na capa mostra uma “peça de olaria de Nisa” a ser trabalhada por mãos de mestre e verifique que lá não consta menir algum. Ora, se lá não constam, deduz-se que não existem, seja nos Saragonheiros ou no Vale das Lebres, na Fonte do Cão ou no Patalou, ou ainda na Tapada da Meia Légua, entre Nisa e Monte Claro.
É tanto o património em falta naquele folheto que até dá dó. Por favor, ouçam as pessoas, aprendam com elas, respeitem o que de valioso o concelho tem. Não podem, nem devem ignorar!
Aconteceu a 13 de Fevereiro último e alguns amigos aqui de Nisa estiveram presentes no lançamento, em Marvão, de um livro que desenvolve temas sobre megalitismo, ocupação humana no Médio Tejo na pré-história, necrópoles, paleolítico, arte rupestre, carta arqueológica de Vila Velha de Ródão, etc., etc.
Gostámos de ouvir e de aprender com os oradores. O concelho de Nisa insere-se na área retratada pelo livro, mas aqui nada acontece, ninguém aparece...
Nas “escutas” pareceu-me ouvir que o encerramento de curso de uma turma da Universidade de Évora poderia ter acontecido junto ao “Menir do Patalou”, se tivesse havido aprumo do menir e não só. Menir tão perfeito que levou um distinto arqueólogo a classificá-lo como o “protótipo do menir que o Obelix carrega às costas”.

João Francisco Lopes - 25/3/2010 in " O Distrito de Portalegre"