segunda-feira, 25 de abril de 2016

BOMBOS DE NISA: A “bombar” (também) se faz a festa!

Mais de 70 actuações em ano e meio de existência
“ O que são estes ritmos, senão gritos selvagens que nos libertam da alma a raiva e a rebeldia que nos depositaram à nascença” -
-Cátia Godinho, 17 anos, elemento do Tocá Rufar
São o mais recente grupo de música popular de Nisa. Criados em Fevereiro de 2006, em ano e meio de actividade, intensa e entusiástica, os Bombos de Nisa não têm tido mãos a medir, nem ânimo a refrear, para irem satisfazendo os inúmeros pedidos que lhes chegam de todo o país para animar festas populares. Neste ainda curto espaço de tempo, foram mais de 70 as actuações do grupo, de Rio Maior ao Seixal, de Portalegre a Mourão, tem sido um rodopio constante, em defesa da música de raiz tradicional e da divulgação do nome de Nisa.
Pontos altos nas suas actuações, a participação, por duas vezes, no Festival "Portugal a Rufar", no Seixal, os Desfiles Etnográficos em Campo Maior e a Festa do Avante, onde brindaram os milhares de visitantes com um espectáculo de grande vigor, virtuosismo e alegria, sendo recebidos com manifestações de apoio e entusiasmo
Como tudo começou

“Foi uma brincadeira, começa por explicar José Maria Martins, um dos principais impulsionadores dos Bombos e o seu primeiro presidente da direcção.
“Começámos, a brincar, no Carnaval de 2006, em Nisa, com 12 elementos. A surpresa, o entusiasmo e o apoio das pessoas foi de tal ordem que houve logo muita gente a querer integrar o grupo e chegámos rapidamente aos 30 elementos. Este é o número certo, pois garantir instrumentos e deslocações para mais pessoas, é difícil.”
Refeitos do impacto que provocaram e com a adesão de muitos jovens, logo os elementos do grupo trataram de arranjar um local para ensaios, que viriam a conseguir graças ao apoio da Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça, que lhes disponibilizou um espaço.
“Foi um apoio importante, para mais fora da vila, onde podemos “bombar” à vontade e sem incomodar ninguém. Mas o que nós queríamos mesmo era um espaço nosso, pois sabemos das dificuldades da Junta em partilhar aquele espaço connosco.
Foi a pensar nisso e em termos alguma autonomia que resolvemos constituir-nos em associação cultural e recreativa, com estatutos próprios.”
Mais de 60 actuações em ano e meio
Poucos grupos de música terão tido uma vida tão intensa em tão curto espaço de tempo. De Fevereiro de 2006 a Setembro deste ano, foram já mais de sessenta as actuações dos Bombos de Nisa, não só no próprio concelho, onde actuaram em todas as freguesias, mas por todo o distrito de Portalegre, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Elvas, Rio Maior, Cedillo (Espanha), e muitas outras localidades. Neste fim de semana (29 de Setembro) actuam em Portalegre e Mourão.
“Não esperávamos, de facto, uma actividade como a que temos tido e nem sempre podemos responder aos convites que nos fazem, pois já temos recusado alguns, por falta de transporte.
Quero aproveitar para agradecer o apoio da Câmara Municipal de Nisa que, neste aspecto, muito nos tem apoiado. Em todas as terras onde vamos temos sido muito bem recebidos, com grande apoio e carinho, e sem em todas as festas damos o nosso melhor, temos de destacar, com grande manifestações de motivação, as duas participações no festival “Portugal a Rufar”, uma iniciativa impressionante e única em Portugal, com 700 bombos a tocar, e a Festa do Avante, pelo entusiasmo com que nos receberam, mas acima de tudo por podermos “bombar” durante o desfile, para milhares de pessoas.”
Controlar o entusiasmo
Os Bombos de Nisa são um grupo misto. Conta com trinta elementos, oito dos quais são mulheres, seis crianças, a mais nova com seis anos, dispondo, em cada actuação de vinte elementos que tocam bombos, caixas e timbalões (os bombos mais pequenos).
Não se pense que é uma tarefa fácil, a de tocar bombo. Para além do peso do instrumento e da maçaneta, é o esforço de caminhar com um peso às costas, muitas vezes num percurso extenso.
Os Bombos de Nisa ensaiam nos fins de semana, que é quando todos se juntam e durante hora e meia, passam em “revista”, acertando este ou aquele toque ou tempo de entrada, as sete peças (rufos) que integram o seu repertório.
Ainda com pouco tempo de existência, já aprenderam noções básicas de como desfilar e como galvanizar o público. Uma aprendizagem que fizeram por conta própria, dado que este tipo de agrupamentos é mais vulgar no centro e norte do país, quase raros, na zona sul, à excepção da grande Lisboa, onde os instrumentos de percussão ganham cada vez mais adeptos.
“ Nós não queremos crescer a todo o custo. Vamos devagar, subindo cada degrau. O que nos motiva, para além de levarmos bem longe o nome de Nisa e de nos divertirmos, é que as contas estejam em dia e posso dizer que todo o material que temos está pago.”
Todo o material, são seis caixas e seis timbalões que custam, em média, 150 euros cada e ainda trinta bombos, ao preço de 200 euros a unidade, sem falar nas maçanetas.
Neste aspecto, os Bombos de Nisa nem sequer se podem queixar. Há alguns amigos que tomaram a iniciativa de lhes ofertarem um destes instrumentos e dentro do grupo, um elemento, José Maria Carrasco Bizarro, tomou a seu cargo não só a construção de bombos, como a sua reparação.
Talvez por isso, a palavra de ordem inicial do grupo “Cuidado, com as peles!” (as “peles”, em Nisa, têm outra conotação que me escuso a explicar) deixaram de fazer sentido.
Os homens e mulheres do grupo, adultos, jovens e crianças, quando lhes dão é com força e entusiasmo.
Aquisição de uma carrinha
Apoio é o que pede José Maria Martins, o presidente da direcção.
“Gostávamos de ter o nosso espaço próprio, para os ensaios, recebermos as pessoas amigas e poderem ver como é que funcionamos. Outra das nossas grandes carências é a falta de um transporte, uma carrinha de nove lugares, que pudesse de algum modo garantir as deslocações a localidades mais próximas. Vamos tentar adquiri-la e desde já todas as ajudas são bem-vindas.
Como está nos nossos estatutos, somos um grupo sem fins lucrativos. Ninguém recebe um tostão que seja e todos tocam por amor à camisola. O que recebemos pelas actuações destinam-se, exclusivamente, à compra ou à reparação de instrumentos. Estamos a pensar numa vestimenta própria. As camisolas, felizmente, muitos têm sido os patrocinadores que as têm oferecido e aos quais aqui agradecemos publicamente. Aproveitamos também para agradecer o apoio dado pela Inijovem e pelo Rancho Típico das Cantarinhas, fundamentais para o arranque da nossa actividade.
A todas as pessoas de Nisa, associações e de outras localidades, o nosso muito obrigado. Os Bombos de Nisa existem, também, graças a elas. E, por elas, vamos continuar, com redobrado estímulo, a “Bombar”. Contactem-nos através de TLMs 964430552 / 918746508.
E, não se esqueçam: Tenham cuidado com as Peles!”
“Este é um grupo onde há igualdade”
- Ana Cristina e Ana Luísa
A Ana Cristina e a Ana Luísa são duas jovens de 19 anos, primas e integrantes dos Bombos de Nisa.
“Viemos para o grupo, onde já havia outros familiares, para nos divertirmos e pelo convívio. Este é um grupo onde todos se conhecemos e damos bem, para além disso, homens e mulheres não se medem aos palmos, nem pela diferença de sexos”.
Ambas fazem parte dos corpos sociais da recém constituída associação “Bombos de Nisa” e defendem que “o grupo tem condições para ir mais além, assim haja unidade e as pessoas não deixem de nos apoiar”.
Bombos querem promover a música tradicinal
 A crescente solicitação de pedidos de actuação dos Bombos de Nisa, motivaram os seus elementos para a transformação numa associação sem fins lucrativos, dotada de órgãos sociais eleitos e com estatutos próprios já elaborados.
Os Bombos de Nisa, assim se denomina a associação, têm como objectivo “a promoção e divulgação da música tradicional portuguesa, através do toque de instrumentos tradicionais de percussão, nomeadamente de Bombos e Tambores.
Os corpos sociais eleitos, são os que seguem:
Assembleia Geral
Filipe Carrasco – Presidente
José Carrasco – Vice Presidente
João Trigueiro – Secretário
Direcção
José Maria Martins – Presidente
José Carrasco Bizarro – Vice Presidente
Ana Cristina Bizarro – Secretária Geral
Marco Rodrigues – Tesoureiro
Joana André, Ana Luísa e Élvio – Vogais
Conselho Fiscal
Avelino Silva – Presdeinte
Liliana Bizarro – Relator
Filipe Manso – Secretário

Mário Mendes in “Jornal de Nisa” - 2008