Nos
confins do Alto Alentejo, encontra-se, localizada em Niza, uma antiga e curiosa
indústria – a das rendas.
É interessante ver as rendeiras, sentadas em tripeças,
junto das portas, vestidas com os trajos característicos – saias escuras com
barras claras, roupinhas de pano, lenço traçado sobre o peito, e mantilha curta
na cabeça ou o clássico chapéu nizense; adornadas com gargantilhas e fios de
ouro, onde predominam os antigos hábitos de Christo, de ouro esmaltado.Umas,
com o rebolo sobre os joelhos, vão fazendo as rendas de colchete, qual delas a
mais complicada, ou desfiando no alvo pano de linho os entremeios tão
caprichosos, produtos de extrema paciência; outras fazem rendas de agulha, que
servem as mais das vezes para colchas que levam anos a compor e que passam
gerações guardadas nos arcazes, servindo somente em dias festivos de bodas ou
batizados.
A
indústria de rendas de Niza – até há pouco restringida quasi ao uso local, -
tem ultimamente exportado muitos e belos exemplares, notando-se por isso um
certo desenvolvimento no labor das rendeiras, que oxalá não abandonem os
modelos e desenhos que ainda seguem e imprimem às suas rendas um carácter
acentuadamente regional.
NOTAS:
Na fig. 1 estão representadas duas rendeiras trabalhando à porta de casa nas
rendas de rebolo, o mesmo sucedendo na fig. 3, onde essas rendeiras são
acompanhadas por outra mulher que desfia um entremeio. Na fig. 2, das três
mulheres, tipicamente vestidas, a do meio trabalha em renda de agulha.
Luís
Keil
*
Este texto de Luís Keil deve remontar ao início dos anos 40 do século passado
quando o autor elaborou o Inventário Artístico de Portugal (Distrito de
Portalegre -1943)
Publicado
no semanário "Alto Alentejo" - 3.8.2011