quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Misericórdia de Nisa nos 500 anos da sua fundação e nos 50 anos da inauguração do Hospital.

"Este compromisso e privilégios queremos e mandamos que se cumpra e guardem na Confraria da Vila de Nisa, assim tão inteiramente como ele se contém, porque assim havemos por bem. Feito aos 17 de Novembro de 1520. André Pires o fez. El-Rei".
A Santa Casa da Misericórdia de Nisa, instituição com cerca de 500 anos, vive agora um período de maior acalmia, passados que foram os anos da existência de uma Comissão Administrativa, nomeada após a um período não menos conturbado e que levou a divisões entre os Irmãos da Instituição.
Com um total de 106 trabalhadores, número que inclui um médico e dois enfermeiros, a Misericórdia de Nisa é a segunda entidade empregadora do concelho, prestando apoio social e assistência a 187 utentes, não contando com o sector de educação que abrange 74 crianças, repartidas pela creche e pré-escola.
São números que obrigam a um gestão criteriosa dos recursos e não é de admirar que uma das palavras mais ouvidas do Provedor seja contenção.
“No anterior mandato estive com vontade de abandonar devido à minha profissão, mas insistiram para aceitar e aceitei devido às circunstâncias.
Nós tomámos posse em Julho de 2007 na sequência de uma Comissão Administrativa e a primeira medida que tomámos foi pagar os subsídios de férias ao pessoal. Não havia dinheiro, tivemos que fazer uma livrança e temos vindo a equilibrar as contas.
Os resultados, líquidos, do exercício de 2009 são de 47 mil euros e podemos dizer que a situação financeira está ligeiramente equilibrada, isto apesar de termos investido na instalação de painéis solares, mais de 80 mil euros, sendo 43 mil pagos pela Misericórdia, num período de 8 anos. Adquirimos ainda quatro carrinhas, sendo uma paga a pronto e as restantes em sistema de leasing.
Este ano vamos ter que proceder a obras de adaptação no Jardim de Infância, para responder às exigências de novos métodos pedagógicos.
Na última Assembleia Geral foi aprovada a venda de alguns bens, prédios rústicos e urbanos de valor diminuto, quer económico, quer agrícola.
Para 2010, o Plano de Actividades que elaborámos tem em conta a situação financeira, definimos algumas prioridades e não entramos em projectos que sabemos não poder concretizar. Vamos adquirir um fogão industrial para a cozinha da instituição e uma caldeira a gás para o aquecimento central.
Pretendemos construir um pavilhão na Herdade da Marfeira e outro na Herdade da Fajã, para além de prosseguirem as vedações em diversas herdades, numa extensão de 15 mil metros.”
É este, segundo José Dinis, o plano possível, atendendo às dificuldades económicas, que não são maiores porque, garante, “os balões de soro da actividade agrícola vão aguentando, e este ano estamos a contar com uma boa receita através da venda de cortiça.”
Questionado sobre os 50 anos da inauguração do Hospital da Misericórdia e a sua posterior transformação em Centro de Saúde, o Provedor refere que “o novo Centro de Saúde vai ser construído nos terrenos anexo ao antigo hospital, pertença da Misericórdia” e que a Câmara “irá pagar 180 mil euros, conforme avaliação feita pela própria autarquia e que nós aceitámos. O pagamento vai ser diferido no tempo, em tranches, e uma coisa posso garantir: esse dinheiro será para aplicar integralmente na transformação e beneficiação da unidade de cuidados continuados.”
Quisemos saber qual o futuro aproveitamento das instalações ocupadas actualmente pelo Centro de Saúde e José Dinis explicou-nos que não tinham ainda um objectivo específico, mas que “ as mesmas iriam integrar-se na função social que a Misericórdia desempenha, não estando excluída a ideia de poderem ser instalados consultórios médicos e de se firmarem protocolos com outras entidades, visando o aproveitamento e rentabilização das instalações”.
Dúvidas existem sobre o destino a dar á designada Casa da D. Adelina, tendo o Provedor da Misericórdia esclarecido alguns dos problemas que se têm colocado acerca do edifício.
“ A casa da D. Adelina foi adquirida para funcionar como Centro de Noite, projecto que nunca se concretizou. Havia a ideia de ali instalar um Centro para Doenças Degenerativas, foi apresentado um projecto às entidades competentes, mas o projecto veio indeferido.
Então pensámos em não avançar com mais projectos que significam gastar mais dinheiro. A Mesa Administrativa tem intenção de proceder a algumas consultas, ouvir o parecer de entidades e associações de modo a que haja propostas de ideias que levem ao aproveitamento do edifício. Se temos alguns protocolos na área da Geriatria com a ADN não vejo por que não possamos ter a nível de um concurso de ideias para a casa da D. Adelina.”
O aproveitamento da Praça de Touros foi outra das questões que colocámos a José Dinis.
“A Praça de Touros é gerida directamente pela Misericórdia. Cedemo-la, gratuitamente, a algumas associações com objectivos sociais e de solidariedade, como é o caso dos Bombeiros e a outras entidades, a um preço simbólico. Devo dizer que é uma infra-estrutura que nos dá prejuízo, quer com os custos de manutenção, quer ainda com os custos devidos por inspecções e alterações a que periodicamente estamos sujeitos.”
Um dos projectos mais falados durante anos foi a instalação do Museu Augusto Pinheiro, pintor naif natural de Nisa e que faleceu como utente da Santa Casa, tendo deixado a esta instituição um acervo apreciável de quadros de sua autoria.
O Provedor da Misericórdia foi claro ao afirmar que “houve, de facto, um projecto que nunca foi levado à prática e que entretanto, caducou. O Museu estava projectado para ocupar o espaço da antiga oficina de carpintaria na rua capitão Vaz Monteiro e como nunca foi concretizado, hoje temos dúvidas, face às dificuldades económicas que atravessamos, que este seja realmente um projecto para ser implementado pela Misericórdia.
O mesmo se põe em relação ao património arqueológico e à arte sacra, onde temos um valioso espólio, que no entanto não temos divulgado devidamente, por vários motivos, um deles a falta de condições de segurança.
Fizemos um protocolo com a União das Misericórdias e vai ser feito um levantamento de todo o património com valor cultural e artístico.”
Voltando à função social da Santa Casa e tendo em conta os princípios defendidos por D. António Lobo da Silveira, procurámos conhecer quais os critérios de admissão de utentes.
“ A Santa Casa tem uma enorme lista de espera, sendo a maioria constituída por mulheres.
Gerir as entradas não é fácil, pois há pessoas inscritas há 8 e 9 anos. O processo de admissão é, quanto a mim, transparente, sendo feito um inquérito pela técnica social, que depois é avaliado em função das necessidades de assistência pela assistente social que faz a proposta, sendo a mesma ratificada por três elementos da Mesa.
As prioridades são definidas de acordo com o Compromisso, dando a vez aos familiares dos mesários e empregados. Neste momento não temos vagas, ainda que disponhamos de lugares para utentes designados como temporários, situações de emergência por 15 dias e lugares para outro tipo de temporários, por um período de 3 meses que poderão ser renovados.”
Sobre as respostas que poderão dar no futuro, José Dinis acredita que “é possível avançar para o alargamento da extensão Lar, melhorar a Unidade de Cuidados Continuados, mas tudo isso vai depender dos investimentos e candidaturas que sejam aprovadas. Por nós, como disse, teremos uma “almofada” de 180 mil euros para início de trabalhos, mas não sabemos em que sentido vão evoluir as políticas sociais. O que posso dizer é que a sustentabilidade da Santa Casa tem sido conseguida através das comparticipações da Segurança Social. De outro modo seria impossível. As comparticipações são revistas anualmente em função das valências que temos."
"Equilíbrio das contas é fundamental"
 José Dinis Moura Semedo, 55 anos, Chefe de Finanças, natural de Nisa é o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Nisa, eleito em 13 de Fevereiro do corrente ano.
Um cargo que assumiu um pouco a contra gosto, por já ter integrado o anterior elenco directivo, como vice-provedor e em parte pelo inesperado falecimento do anterior Provedor, António José Correia.
Na conversa que manteve com “O Distrito de Portalegre”, José Dinis revisitou um pouco da história desta instituição prestes a completar 500 anos de existência, num mês em que se assinalam (24.4.1960) os 50 anos da inauguração do Hospital da Misericórdia, que constituiu durante décadas, uma importante estrutura na saúde e assistência aos habitantes do concelho e de povoações vizinhas.
Para o Provedor da Santa Casa, a ideia-chave é contenção e equilíbrio das contas, ou não fosse ele um técnico das contribuições e impostos.
Mário Mendes in "O Distrito de Portalegre" - 30/4/2010

Memória e tradições de Nisa: AS CAPELAS



Ainda se lembram?
Dantes era tradição e hábito, por alturas dos santos populares, as mães fazerem capelas para os filhos e ou netos. Uma tradição que ainda se mantém, em Nisa, se bem que as capelas seja em menor número do que antigamente.
Escreve o prof. José Francisco Figueiredo, a este propósito, que pelo S. João e " às primeira horas da manhã do dia 23 e até à tarde, era certo, andarem as crianças de casa em casa a pedir flores para as capelas, que as mães confeccionam aprimoradamente, revendo-se depois, com orgulho, nas cabecinhas engrinaldadas dos filhinhos estremecidos".
Mais diz o autor da "Monografia da Notável Vila de Nisa" que as capelas "ficam toda a noite ao relento, isto é, penduradas em pregos às janelas das habitações. Deambulando pela vila, o transeunte fica inteirado de quantas crianças receberam da alegria das mães as coroas entretecidas de sorrisos e beijos. Basta olhar para as janelas!..."

segunda-feira, 27 de junho de 2016

NISA: A Voz dos nossos poetas

QUERIA VER A TUA LETRA
Queria ver a tua letra
Queria ver a tua letra
Queria ver a tua letra
Queria ver a tua letra

Em suave perfume de flor
Comparei-te com uma rosa
E tu sempre desdenhosa
Por eu te falar em amor
Não me achaste merecedor
D´uma condição secreta
Não me vale ser poeta
Para vencer bem e depressa
Podes crer que ia à festa
Se tivesse visto a tua letra

Eu queria ser como o passarinho
Voar sem nunca descansar
Em teu peito ia pousar
E cantando devagarinho
Para salvar o meu destino
Aquilo que a todos nos sujeita
Ver na tua mão direita
Qual o destino marcado
Mesmo que fosse de má vontade
Queria ver a tua letra

Mostrei-te o meu coração
Quis contar-te o meu segredo
Mas depois eu tive medo
Quando senti a comoção
Mesmo com a tua mão
Não quiseste pegar na caneta
Fizeste-me ficar alerta
Quando vi que não davas por isso
Mas se tivesses mais meiguice
Mostravas-me a tua letra

Desde que eu te conheci
Que de ti fiquei gostando
Andei sempre evitando
De me dirigir a ti
Até que mais não me susti(ve)
Sem ter uma ideia certa
Quando da luz do planeta
Recebi um afecto assim
Desculpa se te ofendi
Em querer ver a tua letra
JMV

VIAGEM
A nobre Vila de Nisa,
com seu castelo e brasão.
Terra de mercados e feiras,
com grande tradição.

Gáfete, Tolosa e Arez,
diz o povo e com razão.
São terras de boa gente,
mas juntas, olha que três.

São Matias e Alpalhão
e as termas da Fadagosa,
Amieira e seu castelo,
são coisas muito famosas.

Mais ao Norte o Pé da Serra,
Salavessa e Montalvão.
Tratam todos com carinho,
mesmo os que de lá não são.

É terra de pescadores,
a bela e linda Santana.
O sangue corre-lhes nas veias,
é gente com raça e gana.

Somos do Concelho de Nisa,
Distrito de Portalegre.
Somos Alentejanos,
gente boa e gente alegre.
Diamantino Inácio


Os Trabalhos de António Elias
Vou arranjar um caminho
De Nossa Senhora da Graça
Anda tão desprezadinho
Qu´arrepia quem lá passa.

Eu também sou culpado
Deste caminho assim estar
Não votei neste presidente
E ele não o manda arranjar.

Venham ver este caminho
E os buracos que ele tem
Arranjaram um ao lado
Onde não passa ninguém.

Se isto está tudo trocado
Já nós todos o sabemos
Dizem que é o presidente que manda
Mas ele é o que manda menos.

Nas próximas eleições
Também me vou candidatar
Faço o mesmo que eles fazem
Se um dia lá me apanhar.

Também vou votar em mim
Mesmo que vote sozinho
Se me apanho no poleiro
Só arranjo o meu caminho

Quando em tempo de campanha
Correm as ruas, à pressa
A abraçar novos e velhos
E a fazer muita promessa.

Largam discursos, dão sermões
Como toda a gente sabe
Mas depois das eleições
Nem bom dia, nem boa tarde!
António Elias Estróia
In "Jornal de Nisa" nº 222 – 10/1/07

VIDAS: António Eustáquio, 80 anos, um exemplo

Discurso na Homenagem realizada em em 12/11/2005" *
"Hoje é um dia, particularmente, feliz, por estarmos aqui reunidos e podermos, de viva voz e publicamente, enaltecer as virtudes morais, sociais e humanitárias de um filho desta terra: o senhor António Joaquim Eustáquio. António Eustáquio, nasceu ali na Rua da Carreira, numa casa, pequenina, de que hoje resta, apenas o local. Uma casa pequenina, como tantas que conheci na "Vila" (em Nisa) e que albergavam famílias com dez, doze, catorze e mais pessoas. Eram casas pequeninas, com dois ou três compartimentos acanhados e onde, tantas vezes, ainda cabia o macho, o burrito, a cabrinha e o porco.Eram casas pequeninas, cheias de gente (o concelho, desculpem-me, chegou a ter nessas décadas de 40, 50 e 60, do século passado, quase 20 mil habitantes), cheias de miséria, mas transbordantes de amor, de carinho e afectos. A história da sardinha, dividida por não sei quantos, não é, não foi - infelizmente - uma fábula, mas sim uma realidade nua e crua, sentida por muitas famílias. Relembro o passado, para que possam perceber que, nascido no seio de uma família de dez irmãos, a António Joaquim Eustáquio não restava outra alternativa senão fazer-se à vida, bem cedo, na idade de todos os sonhos e brincadeiras. O seu tempo de menino foi passado a trabalhar no campo, nos "barros" do Cano e do Ervedal, até ir para a vida militar. E, pela vida militar se deixou ficar até à ao posto de sargento-ajudante e a passagem à situação de reforma, com as idas e vindas do Ultramar, nos tempos de brasa da guerra colonial, de permeio.Aqui começa, verdadeiramente, a "segunda vida" de António Eustáquio. Não esqueceu a casa na Rua da Carreira, a família numerosa, as dificuldades que enfrentou e no remanso do lar, encaminhados os filhos, engendrou uma forma de ser útil à sociedade e ao mesmo tempo de combater o ócio que, não raras vezes, é o caminho mais curto e directo para o vício.
Há uns bons anos, chamei-lhe, numa entrevista, "alpalhoeiro de sangue na guelra". O título, a meu ver, sugestivo, pretendia associar a sua origem, que nunca renegou e de que conserva os traços identitários inconfundíveis, como o sotaque e a vontade, granítica, de remover montanhas, com o espírito de iniciativa, pouco comum num jovem com mais de setenta anos. O sangue, ou, mais propriamente, a falta dele, fez despertar em António Eustáquio, um dador de muitos anos, o desejo, irreprimível, de constituir uma Associação, a nível distrital, que dinamizasse, de forma organizada, não só as recolhas benévolas de sangue, mas, sobretudo, pudesse agir num trabalho de sensibilização para cativar novos dadores e fazer ruir alguns dos mitos e tabús que ainda imperavam sobre as dádivas de sangue.Nascia, assim, em 1990, e por acção directa, decidida e voluntária de António Joaquim Eustáquio, a Associação de Dadores Benévolos de Sangue do Distrito de Portalegre.Ao longo destes 15 anos, a Associação tem desenvolvido um trabalho notável; percorreu um caminho não isento de escolhos e afirmou-se, ao serviço da comunidade, principalmente, pela força, vontade e determinação deste homem.Fazendo recolhas, regularmente, em 12 dos 15 concelhos que integram o distrito (as excepções são Campo Maior, Elvas e Gavião) a Associação de Dadores de Sangue do Distrito de Portalegre, recolheu neste espaço de tempo e sem contar com as dádivas feitas, directamente, nos serviços próprios do Hospital Distrital, cerca de dez mil dádivas benévolas de sangue, contribuindo para a satisfação das necessidades do Hospital Dr. José Maria Grande e dando um contributo relevante para suprir carências a nível de outras unidades de saúde da região e do país.A estas acções de recolha de sangue, programadas e descentralizadas por todos os concelhos ao longo do ano, e realizadas por uma equipa especializada, acresce o trabalho que vem sendo, ultimamente, desenvolvido na sensibilização para as dádivas de medula óssea, com a constituição de um banco de dados de possíveis dadores.Toda esta acção, pioneira, humanitária e humanista, de que beneficia toda a comunidade, não teria sido possível sem a dedicação, sem a vontade inabalável, e sem o empenhamento cívico deste cidadão da nossa terra.Apesar de não possuir uma grande preparação técnica na área da saúde, o programa que António Eustáquio mantém, desde há anos, às quartas-feiras na Rádio Portalegre - que julgamos, a este nível, pioneiro - não deixa de constituir uma original forma de comunicação, não só com o universo dos dadores de sangue, mas com o comum dos cidadãos, pela espontaneidade, pelos exemplos, pela força apelativa das mensagens. Muitos dadores, estou certo, foram "ganhos" desta forma. Outro aspecto saliente do programa é a "desmontagem", a clarificação, o esclarecimento de dúvidas, que Eustáquio faz de um modo muito directo, com exemplos práticos e sem artifícios de linguagem, supostamente técnica ou intelectual.(Abro aqui um parêntesis para convidar/sugerir às entidades responsáveis na Saúde para seguirem, também, idêntico caminho.).Para além de fundador e presidente da Associação de Dadores Benévolos de Sangue do Distrito de Portalegre, António Joaquim Eustáquio pôs de pé e dirigiu, até à passada segunda- feira, a delegação distrital da Liga dos Combatentes.Também aqui o seu trabalho foi bem visível, empenhado e fez ressurgir, com benefícios para todos os ex-combatentes, uma associação quase moribunda.O levantamento feito dos talhões dos ex-combatentes nos cemitérios do distrito; o arranjo, embelezamento e dignificação destes espaços, em colaboração com as Câmaras Municipais, como aquele que foi feito em Nisa; a organização das comemorações do Dia dos Combatentes e a representação e defesa dos interesses dos ex-militares perante as instituições governamentais, têm sido possíveis graças à organização e combatividade do Núcleo.Mas é, sobretudo, através do trabalho desenvolvido à frente e com a Associação de Dadores, que queremos assinalar o mérito exemplar deste cidadão do concelho, do distrito, da região e do país, porque os benefícios resultantes das dádivas de sangue, não conhecem fronteiras nem extractos sociais: são de todos, de quem, voluntariamente, dá e de quem, no infortúnio da doença, recebe.O labor altamente meritório da Associação de Dadores, tendo à frente e principal dinamizador, António Joaquim Eustáquio, permitiu suprir carências do preciso líquido e contribuir como poderoso lenitivo para atenuar a dor física e psicológica de muitos doentes e das suas famílias.A homenagem que aqui lhe prestamos, mais não é do que o reconhecimento público e devido, a um cidadão que recusou o conforto da situação de reforma e se empenhou, de forma voluntária, decidida e abnegada na criação e desenvolvimento de uma associação, dirigida para proporcionar ao seu semelhante um pouco mais de esperança e, quantas vezes, um novo sentido para a vida.Em vez de se limitar aos bancos do jardim, a "matar o tempo morto" que antecede a morte, Eustáquio preferiu transformar a experiência de vida acumulada, numa causa social ao serviço do seu semelhante, mostrando-nos que ainda há exemplos, despojados, que ajudam a acreditar que é possível um mundo melhor. António Eustáquio, com a força da sua determinação, do seu carisma e da sua entrega, merece que lhe tributemos, publicamente, o mais sincero e respeitoso agradecimento. Obrigado, António Eustáquio!"
Mário Mendes - Director do "Jornal de Nisa"

sábado, 25 de junho de 2016

AS ALCUNHAS DE NISA (3)

Comendo um Bolo Grande,
E dentro d´uma Jangada,
Vai, entre outros, o Zé Lindo,
Preparando limonada.

Lembram-se ainda do Baforão,
Do Canilhas e da Balhôa,
Do Rapu e da Cotôa,
Do Mosquito e Tumbarão?

Houve também um Mata-Lobos,
Tomba-Lobos também há um;
Toda a gente tem alcunha,
Também eu terei algum!

Não vos peço perdão por isto,
Pois é tudo brincadeira;
Valha-me a Mª Primeira,
Valha-me N. S. J. Christo.

Coelhos, há Gallinhas,
Beatos e Ciganos;
Botas, há Bolinhas,
Paneiros a vender panos.

Esteve cá o Menino Santo,
Veiu visitar o Rollinho;
Encontrou, em grande pranto,
O Sapatêta, no caminho.

Fez visitas, botou discurso,
Foi às Fontes, provou o vinho;
Mas fez figura d´urso
Ao ouvir o Pelladinho!

Ainda um dia hei-de saber,
Hei-de sabê-lo um dia;
Onde mora o Amintolia
Fazem favor de m´o dizer?

Muita água tem chovido,
Já a Barroca-Velha transborda;
Vae lá pescar o Polido,
Come o peixe o Talaborda.

Pão-com-Ovo, faz bom peito,
Com rodelas de bom chouriço;
Não há Mula sem defeito,
Nem cachopa sem derriço!

É adágio dos antigos,
Quem não deve, não teme nada;
Sahem falsos, certos amigos,
Dá vontade de lhes dar lambada.

Apanhei na ribeira uma rã,
Trazia um Kágado na boca;
Fiz presente da rã à Toca,
Dei o Kágado ao Zé Lã.

Numa gaiola cantando estava,
Um Pintassilgo Balseiro;
Veiu, de repente, um Ratinho,
Meteu-o logo no pandeiro.

Foi à Carqueija o Pernica,
Com um Carneiro da Semente;
Não foi com elles, por estar doente,
O Sebastião ou Dominica.

Vendem-se por ahi Passinhas,
Umas d´uva, outras de Ameixa;
Vende-se, em Junho, bom Abrunho,
Tudo caro e ninguém se queixa.

Prende-se o relógio à Corrente,
Chama-se ao Macaco-Bugío;
Julga-se, forte, certa gente,
Sendo a vida um simples fio.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Evocação de António Louro Carrilho nos 20 anos da sua morte

Já era tempo do home(m) / Já era tempo também / De dar pão a quem tem fome /Trabalho a quem o não tem. (1)
Domingo, 11 de Janeiro de 1992. Évora, cidade, acordara com um manto frio de neblina a inundar-lhe os poros. Em Nisa, no extremo norte do Alentejo, decorria a 1ª Feira do Mel.
É aqui, na plena agitação de um dia de feira que a notícia surge, a um tempo, seca, brutal e inesperada: morreu o António Louro Carrilho!
Um trágico acidente de viação roubara, em segundos, a vida de um jovem professor universitário, culto, determinado, irreverente, nascido em Salavessa (Nisa).
Lembro-me como se fosse ontem do impacto que a notícia causou, a tristeza e a comoção, a revolta e indignação por uma despedida da vida tão precoce como injusta.
O António Louro Carrilho não era uma pessoa qualquer. Aos 37 anos, percorrera, já, um longo e penoso caminho, cheio de obstáculos que ele ia torneando com a simplicidade e o voluntarismo, a mestria e a determinação de quem sabia que a felicidade tinha que ser conquistada.
De origem simples, rural, cedo compreendeu o esforço dos pais, emigrantes, para lhe darem uma vida melhor. Estudou no liceu em Castelo Branco, onde a sua presença, não passou despercebida, antes pelo contrário. Soube granjear amigos sem nunca se despojar das suas convicções. Na década de 70, em pleno período revolucionário, torna-se na voz e imagem das reivindicações estudantis na cidade albicastrense. As suas vindas à aldeia natal e a Nisa são sempre pretexto para intermináveis discussões sobre os “caminhos da Revolução”. Adepto da “Revolução Cultural” chinesa e das ideias maoístas, António Carrilho, de longas barbas e cabelo revolto é a imagem inacabada do Che, com um poder de argumentação sempre vivo e acutilante. Não desprezava, antes estimulava, uma boa discussão, quando os interlocutores se lhe mostravam à altura.
A pretensa dureza e rigidez do seu discurso, escondiam o homem e futuro universitário que através do estudo da filosofia e da pedagogia iria debruçar-se como lema de vida, nas questões centrais da liberdade, da razão e da existência.
O revolucionário dogmático deu lugar ao militante do espírito, da compreensão do mundo, do humanismo, numa abordagem multidisciplinar e plural que nunca abandonou.
Frequenta a Universidade de Coimbra onde conclui a licenciatura em Filosofia (1979) e mais tarde (1988) o Mestrado com uma tese “Filosofia e pedagogia no pensamento de Delfim Santos” que obteve a classificação de Muito Bom. A Universidade de Évora acolhe-o como professor assistente e desde logo o seu espírito trabalhador e metódico é notado, tendo iniciado uma carreira académica plena de sucesso.
O seu talento de investigador é premiado como bolseiro da Gulbenkian tendo efectuado diversos trabalhos de investigação na Universidade Católica de Lovaina (Bélgica).
Dessa estadia em Louvaina, Mário Mesquita oferece-nos, num breve relato, alguns aspectos da personalidade de António Louro Carrilho, seu companheiro de investigação.
“O que me surpreendia no António era a forma exemplar como conjugava a disciplina no trabalho académico com as outras mil e uma questões a que dedicava atenção e interesse: desde o desporto (jogou futebol na terceira divisão) à apicultura… Era bem curiosa a forma ágil como mudava do registo exigente da reflexão inerente ao seu trabalho universitário para o não menos exigente discurso acerca das pequenas questões do quotidiano … “.
António Louro Carrilho não esgota as suas preocupações unicamente no trabalho universitário. A filosofia e o fenómeno da comunicação levam-no a publicar livros sobre Antero, Régio, Delfim Santos e Sartre e a produzir diversos artigos tanto em revistas da especialidade como a “Vértice” ou a “Economia e Sociologia”, como em jornais, desde ”O Giraldo” ao “Ecos do Sor” e à revista cultural de Portalegre “A Cidade”.
Na área da Pedagogia publica “A formação de professores na Universidade de Évora”  na Revista Portuguesa de Pedagogia e “Quem tem medo da Filosofia no ensino secundário” n´O Jornal da Educação – Suplemento do Jornal de Letras.
António Louro Carrilho preparava o doutoramento com um trabalho de investigação sobre “Filosofia, Comunicação e Pedagogia – Por uma Pedagogia de Relação Interlocutiva”.
Muito apegado à sua aldeia, Salavessa, António Carrilho dedicava-se à apicultura, pretexto para as constantes visitas que fazia ao concelho de Nisa e na quais aproveitava não só para os trabalhos com as abelhas e as colmeias, mas para se embrenhar e participar como cidadão activo e empenhado nos problemas da sua terra.
Do seu esforço persistente e recolha sobre a obra do poeta popular José António Vitorino – o Ti Zé do Santo - nasceu o livro “Terra Pousia”, e nele escreveu António Carrilho, no prefácio:
“A cultura popular é a mais simples, a mais pura, a mais verdadeira, porque nasce de uma relação espontânea do homem com a natureza, a vida e a sociedade. Não está contaminada pelas vontades dos barões da crítica, não é forjada segundo o estilo das bigornas dos catedráticos, não se passeia pelos salões das academias”.
E remata, como falando de si próprio: “Faz-se com a mesma humildade, empenho e vigor com que o homem agarrado à rabiça do arado, rasga a terra pousia para nela lançar as sementes geradoras do pão de cada dia”.

António Louro Carrilho era um homem frontal e solidário, um professor que prestigiou com o seu trabalho, a Universidade. Um cidadão comprometido com os problemas da sua terra, da sua região e do seu país. O concelho de Nisa perdeu, há vinte anos, um filho e um professor de mérito, cuja memória aqui evocamos e que vai perdurar pelos tempos fora.
(1)     – Vitorino, José António – in “Terra Pousia” - 1996
António Louro Carrilho – A Obra
Filosofia
1 – “Sartre – a liberdade e o indivíduo como imperativos éticos” – Ecos do Sor – 12/5/1980
2 – “Coordenadas filosóficas no pensamento de José Régio” – A Cidade – Outubro de 1984
3 – “Antero do Quental e o Socialismo – Subsídios para a compreensão do seu pensamento político” – Edição de Autor – Évora, 1985
4 – “A técnica sob a alçada da teoria crítica em Jurgen Habermas” – Economia e Sociologia – Évora – nº 41 – 1986
5 – “O problema da liberdade na filosofia de Sartre” – Economia e Sociologia – Évora nº 47 – 1989
6 – “Delfim Santos e a filosofia portuguesa” – Vértice – Lisboa, II Série nº 12 – 1989
7 –“ Je zappe donc je suis ou a televisão na afirmação do eu pela via do telecomando” – Vértice, Lisboa, II Série, nº 47 – 1992
Educação
8 – “A formação de professores na Universidade de Évora” – Revista Portuguesa de Pedagogia – Coimbra, 1984
9 - “A formação de professores na Universidade de Évora” – Informação Interna – U. Évora – 15 Fevereiro 1985
10 – “O estudo epistemológico da pedagogia em Delfim Santos” – revista Portuguesa de Pedagogia – Coimbra, 1988.
11 –“ Quem tem medo da filosofia no ensino secundário?” (1) – “O Giraldo” – Évora – 9/3/1988
12 –“ Quem tem medo da filosofia no ensino secundário?” (2) – “O Giraldo” – Évora – 24/3/1988
13 –“ Quem tem medo da filosofia no ensino secundário?” (1) – O Jornal da Educação – Supl. Nº 2 ao JL - Jornal de Letras – 26 de Março a 4 de Abril de 1988
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 18/1/2012

sábado, 18 de junho de 2016

Joaquim Zacarias: 20 anos de dedicação ao Sport Nisa e Benfica

Joaquim Zacarias terminou, há pouco tempo, 20 anos de actividade e dedicação ao Sport Nisa e Benfica, um percurso notável já que, cada vez mais, o dirigismo amador requer tempo, disponibilidade e, naturalmente, muitos sacrifícios. Joaquim Zacarias, com os dirigentes que o acompanharam ao longo de duas décadas, deixou um trabalho importante no Sport Nisa e Benfica, quer na vertente desportiva, ou ainda na melhoria das instalações desportivas.
Momento sempre de grande interesse e porventura de emoção e saudade é quando um dirigente resolve dizer adeus à colectividade que representou com dedicação e carinho.
É o caso de Joaquim Zacarias quando, no seu discurso de despedida, fez uma retrospectiva do trabalho desenvolvido e deu a conhecer despesas e receitas, melhoramentos na Sede Social, e o sentimento de gratidão para quem com ele se empenhou para honra e glória do Sport Nisa e Benfica. Joaquim Zacarias, após vinte anos, dos quais doze foram consecutivos na presidência do SNB deixou um agradecimento a todos os directores que com ele trabalharam, em especial para o presidente da Assembleia Geral, Arménio Morais, que sempre esteve ao seu lado, e sem esquecer os amigos João Correia (ex-Sacristão) e Pedro Mourato (Inácio).
Remodelação da Sede e Estatutos com mais de 60 anos substituídos
Num resumo do que foi feito principalmente nestes últimos doze anos, Joaquim Zacarias deixou estes dados: "Começámos por substituir os estatutos que existiam há mais de sessenta anos. Remodelamos totalmente a nossa sede depois de estar fechada uma década de anos e hoje podemos orgulharmo-nos da sede que temos. Foram feitas aquisições de todo o mobiliário existente, exemplo, mesas, cadeiras, televisores, frigorífico e arcas para o bar. O quintal ou logradouro existente em terra batida está totalmente cimentado e criamos novas infra-estruturas, balneários, casas de banho e pontos de electricidade para as actividades nocturnas".
Construídas duas bancadas no campo de jogos
No campo de Jogos foram feitas duas bancadas, lateral mais pequena e posterior a central incluindo as cadeiras para melhores condições dos associados, realçar o empenho de muitos sócios na colaboração da feitura das referidas bancadas, como exemplo os irmãos Caldeirinhas Eduardo e Luís. No mesmo seguimento foi colocada a casa da imprensa e respectivo camarote para os directores e convidados. Nos balneários foram feitas algumas melhorias incluindo pinturas e sistema de águas. Aquisição de frigorífico e arca para o bar do campo de jogos. Com todo o respeito pelos cola-boradores e porque se deve esta fonte de receita, em especial ao Adelino Serra, foi colocada a antena Optimus. Remodelámos totalmente o antigo palheiro e todo o terreno anexo ao campo de futebol, hoje parque de feiras e mercados. Foram feitas aquisições de frigorífico, arcas, e material para funcionamento dobar. Adquirimos duas viaturas para deslocações das equipas de futebol. Actualizamos e registamos todo o património do nosso clube, no que diz respeito à sede e terrenos", revelou.
Títulos e vitórias nos Distritais
"Na vertente desportiva, tanto a nível de seniores como no futebol juvenil podemos sentir-nos satisfeitos nos contributos, para além de boas classificações, deixamos um registo de vitórias assim descriminadas: Presença em três finais da A.F.P cat. Seniores. presença em três vezes na Taça de Portugal; duas taças da Associação de Futebol de Portalegre categoria de Seniores; três taças da Associação de Futebol de Portalegre categoria de Iniciados; uma taça da Associação de Futebol de Portalegre categoria de Juvenis; Campeões Distritais no primeiro campeonato de futebol de sete categoriade Infantis da Associação de Futebol de Portalegre e Campeões Distritais no primeiro campeonato de FutsaÏ na categoria de Seniores da Associação de Futebol de Portalegre.
Foi muito importante a criação de receitas próprias no clube para o futuro, coisa que não existia, à excepção da quotização, e subsídios que porventura nem sempre aparecem", concluiu Joaquim Zacarias.
Ainda a reter, o Sport Nisa e Benfica passou a ter receitas bem necessárias em face da organização da sua Direcção.
Investimentos e receitas
"Assim todo o investimento feito e praticamente liquidado começámos a tirar frutos: remodelação da sede; foi criado uma receita mensal de 350 euros Bar/ Restaurante; 750 euros Antena Optimus, receita mensal de cerca de 220 euros; remodelação do antigo Palheiro, uma receita anual bruta de 3.000 euros; parque de Feiras e Mercados, 500 euros e ainda a garantia de uma Tasquinha, receita bruta na feira de gastronomia de 2008 no valor de 6.000 euros. A título de curiosidade refira-se que a Fundação do Sport Nisa e Benfica surgiu no dia 1 de Outubro de 1935. Inicialmente com o nome de Sport Lisboa e Nisa, um sonho de Isaac Araújo, José da Piedade Pires, Esteves da Anunciada Cebola e António Maria Carolo.
A Homenagem ao guarda-redes Fernando Felício
Recentemente, o Sport Nisa e Benfica, e em especial Joaquim Zacarias, já como ex-presidente do Clube, adiantou-nos que 20 anos dedicados ao futebol e ao Nisa e Benfica, foram de facto muito importantes, ainda que com bons e maus momentos. Mesmo assim, está convicto que cumpriu o seu dever e, numa altura em que passou a fazer parte como Director da Associação de Futebol de Portalegre, realça que "ser dirigente requer muita disponibilidade. Em tempos de dificuldades acrescidas, a crise também atinge o futebol". Sobre a Homenagem a Fernando Felício adiantou que é muito justa pela sua dedicação ao Sport Nisa e Benfica. Em traços gerais aqui fica algo (escasso) do muito que Joaquim Zacarias deu ao Clube da sua afeição o Sport Nisa e Benfica. Saiu "com a consciência tranquila de quem procura, e até consegue, dar uma nova dinâmica a uma Instituição que faz parte dos Clubes com história no futebol distrital".
João Trindade in "Fonte Nova" - Julho 2009

NISA: Morreu o Ti Caetano!

Nisa perde uma das suas figuras mais populares
Morreu o ti Caetano! No dia 15 de Agosto, foi esta a notícia que percorreu as ruas de Nisa. No dia anterior e bem longe da sua "vila" que ele tanto amava, Caetano Tomás São Pedro, 87 anos, exalava o último suspiro. Era a despedida da vida de alguém que tanto a exaltou e fez dela, a vida, um acto permanente de animação e divertimento.
De origem humilde, humilde foi a existência do ti Caetano, pintor, publicista, caiador, vendedor de pão, homem de mil funções, protagonista de histórias sem conta, malabarista da palavra e dos trejeitos, dos esgares e das caricaturas, figura popular que marcou a vila do século passado.
"Este homem se fosse aproveitado dava um actor de revista de primeira água", escrevi num texto sobre o ti Caetano e cuja recolha constituiu, ela própria, um dos trabalhos para o jornal mais hilariantes com que fui confrontado.
Coisa que já esperava e que, conhecendo como conhecia Caetano São Pedro, me obrigou a estudar e a definir previamente várias estratégias, para conseguir "furar" a muralha inexpugnável que se "escondia" por detrás daquele rosto e pose incaracterística, que tanto prenunciava indiferença como uma abertura e familiaridade pouco comum.
Era o "jogo das máscaras", um "jogo" e manual de expressões faciais que Caetano São Pedro usava com a mestria de um grande actor. Estas "poses" e a mudança repentina de uma atitude para outra, desconcertava qualquer pessoa, fosse ela um professor, um funcionário público, um agente da autoridade ou uma figura política grada da terra.
Se estivesse na calha ser ridicularizada pelos "dotes artísticos" de Caetano Tomás São Pedro - um "servidor de vossa excelência" -, este não recuava, fazia o seu "número" ou rábula e deixava o opositor sem reacção, incrédulo, entre o espanto e o burlesco da situação.
Num tempo em que a liberdade de expressão era cerceada, esta atitude, esta forma humana de encarar a vida, vinda de alguém que não tinha uma vida económica desafogada, antes pelo contrário, é ainda mais admirável.
Morreu o ti Caetano. Nisa perde uma das suas figuras mais populares. Por este e outros locais onde escreva, Caetano Tomás São Pedro, o "primo Caetano", continuará a viver, cavalgando na crista das histórias mirabolantes que protagonizou.
Mário Mendes - in "Jornal de Nisa" - nº 261 - 23/8/2008