Há
50 anos, ainda adolescente, olhava com curiosidade e alguma estranheza, para os
homens que se reuniam, periodicamente, e celebravam (ou reviviam) as memórias
da 1ª Grande Guerra de 1914 a
1918.
Uma
das datas em que se reuniam e recordo com maior clareza era a de 9 de Abril, na
qual havia sempre uma romagem ao ossário (monumento funerário) dos combatentes
da Grande Guerra, promovida pelo senhor João Cabim, avô do actual presidente da
Junta da União das Juntas de Freguesia de Nisa e S. Simão, João Cabim Malpique
Rufino.
Os
ex-combatentes do concelho de Nisa naquele primeiro grande confronto bélico,
dispunham de uma filial da Liga do Combatentes, na travessa Marechal Gomes da
Costa, junto à ourivesaria Pina, uma casa pequena, ainda assim suficiente para
poderem reunir-se e desenvolver algumas actividades, iniciativas que os jovens
e menos jovens de hoje rotulariam, certamente, como saudosistas e outros
epípetos.
O
que não seria (nem será) de estranhar se nos lembrarmos que, entrementes, este
país que se chama Portugal, onde nascemos e vivemos, participou com milhares de
jovens na denominada Guerra do Ultramar, em quatro frentes militares ou
operacionais (Índia, Moçambique, Angola e Guiné) de 1961 a 1974, guerra de que
nos libertámos há 40 anos com a Revolução do 25 de Abril.
Se,
no primeiro caso, a participação portuguesa foi desastrosa e desastrada,
lembrando que só na Batalha de La
Lys , na região da Flandres (Bélgica) entre 9 e 29 de Abril de
1918, as tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca
de 7500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja,
mais de um terço dos efectivos, no segundo, a Guerra Colonial deixou um cortejo
infindável de mortos, feridos, estropiados, física e psicologicamente, cujas
sequelas ainda hoje se fazem sentir de forma dramática.
Os
combatentes da Grande Guerra têm, a lembrá-los, uma rua com o seu nome em Nisa,
além do referido monumento funerário.
As
centenas de ex-combatentes do concelho de Nisa que lutaram na Guerra Colonial,
pelo “dever de servir a Pátria”, dos quais dezanove tombaram em terras
africanas no cumprimento desse mesmo dever, mais do que a homenagem e
reconhecimento, público, em forma de monumento e na toponímia da vila, de que
são merecedores, gostariam que essa página da nossa história recente não fosse,
pura e simplesmente, rasgada e escondida da memória das actuais e futuras
gerações.
Os
poderes públicos locais – Câmara e Juntas de Freguesia – bem como as escolas,
têm essa dívida de gratidão e reconhecimento, por saldar.
E,
reconhecer esse facto, quando se completam 100 anos sobre o início da 1ª Grande
Guerra e 40 anos sobre o final da “Guerra do Ultramar” é, não só um imperativo
de consciência como um dever indeclinável que urge resolver.
Para
que os ex-combatentes e famílias possam dizer, orgulhosamente - quando falarem
nos seus entes queridos – que, mesmo vítimas de uma guerra injusta (e todas as
guerras são injustas, pelo sofrimento que provocam) o seu exemplo não foi
esquecido.
Mário
Mendes – 9/4/2014