terça-feira, 29 de março de 2016

Evocação de um nisense ilustre: Cruz Malpique (I)

A verdadeira arte de Malpiquizar ( Biografia)
Manuel da Cruz Malpique nasceu na freguesia do Espírito Santo, em Nisa, a 28 de Setembro de 1902. Filho de gente humilde que arrancava à rudeza dos campos, os magros meios de subsistência, cedo Cruz Malpique começou a sentir as agruras da vida.
Em 1918, a pneumónica leva-lhe a mãe e, nesse mesmo ano, no próprio dia em que seguia para Portalegre para frequentar, como externo, o liceu, morre seu tio paterno, o padre António da Piedade Marques, que se tinha revelado como seu protector.
Antes, já Cruz Malpique, para além na vida na lavoura, havia trabalhado nos correios e telégrafos e nas oficinas da Escola Prática de Engenharia, em Tancos.
Graças ao apoio do benfeitor Carlos Moreira da Costa Pinto e após ter concluído o curso liceal, matricula-se, em 1923, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e mais tarde, em 1924, na Faculdade de Letras. Completa ambos os cursos, Direito e Filosofia, em 1928 e depois de frequentar a Escola Normal Supeior, inicia a carreira de professor do Ensino Secundário que o vai levar, sucessivamente, aos Liceus de Gil Vicente e Pedro Nunes, em Lisboa, Faro, Angra do Heroísmo e Luanda.
Esteve em Angola até 1947, leccionando como professor e além das funções docentes, colaborou em vários jornais e revistas, escrevendo grande parte da sua obra literária.
Foi reitor do Liceu Salvador Correia, durante três anos, chefe dos Serviços de Instrução daquela ex-colónia, presidente da Sociedade Cultural de Angola.
De regresso ao país foi professor durante muitos anos ( de 1948 a 1984) no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, cidade que considerou como sua terra adoptiva e na qual viria a falecer em 6 de Setembro de 1992.
Cruz Malpique deixou mais de 200 títulos de uma vastíssima obra literária que integra, ainda, " uma enorme catreva de inéditos" por publicar, guardados na Biblioteca Municipal do Porto.
A sua obra percorre campos tão diversos como a filosofia ( o seu grande "amor"), a pedagogia, a análise biográfica, ou a psicologia, revelando uma grande craveira intelectual e mostrando o perfil de um homem humanista. De entre as obras dadas à estampa, num trabalho contínuo e profícuo dedicado às letras, merecem destaque:
"Introdução à vida intelectual" - 1934 - a sua tese de licenciatura, foi dedicada ao Dr. Joaquim de Carvalho, "sábio professor da Universidade de Coimbra", a António Sérgio, com quem conviveu , "à sua inteligência clara e carácter íntegro" e a Carlos Moreira da Costa Pinto; "O Homem, centro do mundo (1936), "Como se faz um escritor" (1939), "O homem de ciência" (1940), "Arte de conversar" (1950), "Psicopedagogia da Curiosidade"( 1952), "Leonardo da Vinci, operário de inteligência" (1952), "O homem, glória e refugo do Universo" (1953), "Filosofia do Plágio" (1955), "Pão para a boca do homem" (1957), "Chávenas de café quase amargo" (1957), "Psicologia literária do homem do Porto" (1958), Cervantes, cidadão do mundo" (1964), "Perspectivas, dificuldades e heresias da Filosofia" (1965), "Sebastião da Gama, poeta de primeira água" (1965), "Miguel de Unamuno e Portugal" (1967), "Linguagem falada e escrita" (1969), "José Régio, alguns aspectos da sua biografia interior" (1971), "Alguns aspectos do perfil psicológico do português" (1974), "Perfil humanístico de Abel Salazar" (1977).
Em 1987, por ocasião do feriado municipal, a Câmara de Nisa homenageou o homem de letras e ilustre filho desta terra, atribuindo-lhe a medalha de mérito municipal e dando o seu nome à rua onde se situa o quartel dos Bombeiros Voluntários.
A Câmara do Porto, por seu turno, aprovou, em Dezembro de 1992, a atribuição do nome de Cruz Malpique a uma rua da freguesia de Ramalde, na cidade invicta.