domingo, 20 de março de 2016

MEMÓRIA: A Procissão dos Passos em 2008

Grande manifestação de religiosidade
A população de Nisa saiu à rua na tarde do domingo (dia 2) para acompanhar o Senhor dos Passos naquela que é, nesta vila e desde há séculos, uma das mais impressionantes manifestações de fé: a Procissão dos Passos.
Num dia de sol, as flores e as cores de cada Passo sobressaíram na sua luminosa simplicidade. De simplicidade e de apelo à reflexão, à compaixão e amor ao próximo falaram as mensagens em cada paragem ou estância.

Foi assim desde o início da procissão, na Igreja Matriz, com muito povo a acompanhá-la, e a banda de música da Sociedade Musical Nisense, a fazer-se ouvir nas suas marchas fúnebres condizentes com a solenidade do evento.
O cortejo religioso desceu a rua Direita, a antiga rua da Cadeia e voltou pela rua Dr. Graça à porta de entrada da antiga vila. Paro por aqui. Vou viajar no tempo e dar a palavra ao professor José Francisco Figueiredo.
Vamos supor que ele assistiu, no passado domingo, à Procissão dos Passos na vila onde ambos nascemos...
“Muito antes da hora marcada para a Procissão começa a fluir ao Calvário o pulcro (lindo, belo) e numeroso bando de anjos e, regorgita de irrequietos querubins, ansiosos por que o organizador do préstito lhes entregue os diferentes instrumentos e símbolos da Paixão de Cristo, que, em salvas de prata ou bandejas, devem conduzir.

Vai à frente o guião, empunhado por moço de forte pulso e, logo a seguir, as sete insígnias, intervaladas por filas de anjinhos, o último dos quais – o anjo da cruz - tem de ser menina robusta, para não soçobrar ao peso do santo lábaro em todo o longo itinerário. Antigamente, incorporava-se também a Verónica, donzela que concitava a admiração geral pela compostura e grave seriedade que tinha de manter durante o percurso. Hoje as prescrições litúrgicas não permitem tal figuração.
Após as imagens de Nossa Senhora do Pé da Cruz e S. João, segue o palio, sob o qual um sacerdote conduz o santo lenho, e, no couce da procissão, a filarmónica e a grande massa dos fiéis. Assim organizado, entra o préstito na igreja Matriz onde é pregado o sermão do Pretório, depois do qual a procissão sai pela mesma ordem, seguindo então o andor do Senhor dos Passos à frente do de Nossa Senhora e S. João. Em todo o trajecto, até ao regresso ao Calvário, ouvem-se os acordes plangentes de sentidas marchas fúnebres. E os sinos não cessam de dobrar, até que, no púlpito exterior do Calvário, o pregador encerra a solenidade exaltando, em comovente oração, os merecimentos da Paixão do redentor.
A segunda-feira de Passos, noutros tempos, era de folga nas oficinas e trabalhos rurais. Nas escolas dava-se o mesmo porque, de costume, confessavam-se os alunos nesse dia e visitavam depois a Senhora da Graça”.

Era assim a Procissão dos Passos. Que começava, no dia anterior, à noite, quando a imagem do Senhor dos Passos era conduzida, em camarim fechado, para a Igreja Matriz e seguida por milhares de pessoas que com profusão de vela e tochas davam ao préstito um grande cenário feérico e de religiosidade.
Ah! E havia também as amêndoas, o visitar das montras, isto nos anos 60, o papeliço (papeluço) das amêndoas para as namoradas...
Muitos passos se davam em louvor do Senhor dos Passos. Passos para a vida, passos no caminho do futuro.
E, hoje?

Mário Mendes11/3/2008