quarta-feira, 23 de março de 2016

HISTÓRIA LOCAL: O Culto de Santo António pelo povo de Arez

O texto que apresentamos da autoria de Teresa Subtil e publicado em 1998, trata do culto popular a Santo António, em Arez. O artigo começa por fazer uma introdução biográfica sobre a figura de Santo António, e desenvolvendo, depois, algumas explicações sobre a importância e a popularidade deste Santo, nas tradições nacionais. Transcrevemos, aqui, a parte, respeitante a Arez, objectivo central do texto.
As manifestações do culto de Santo António em Arez
Em Portugal não existe um dia específico para as manifestações do culto a Santo António; existem sim, vários dias de culto local cujo impacto e celebridade são variáveis. Estes mesmos dias, ainda hoje celebrados, são o reflexo vivo da importância deste Santo na pregação da religião. A tradição de Arez é disso um exemplo.
Primeiro, existem dois tipos de manifestações de culto a Santo António na freguesia de que estamos a tratar, são elas:
- A Romaria à Capela deste mesmo Santo, culto de já há vários séculos, que ocorre na 2ª feira a seguir ao dia de Páscoa, junto à Capela rural do séc. XIV, por sua vez situada a 3 Km da povoação de Arez e cuja construção está ligada à lenda que iremos apresentar em seguida. Esta romaria é, sem dúvida alguma, o testemunho vivo da simbiose entre o espírito de festa e fertilidade das gentes do campo e a prática da religião correspondente aos anseios dessas mesmas gentes da terra. O seu objectivo consiste em aproximar os diversos grupos familiares que vão até à Capela orar, do seu modo, ao Santo António; outrora poder-se-ia encontrar a imagem deste Santo durante todo o ano na Capela, contudo, hoje, a imagem encontra-se na Igreja Matriz de Arez, de onde é levada no referido dia, para o campo com o intuito de se lhe fazer em honra uma procissão e, um convívio com refeição durante todo o dia.
- As festas de Verão em honra de Santo António são uma outra tradição, ainda que um pouco mais recente, também são reflexo secular da identidade do culto com as gentes do campo e os seus princípios mais sagrados, como por exemplo os de fertilidade e alegria.
Esta tradição decorre no primeiro fim de semana de Agosto e na 2ª feira que se lhe segue; antigamente a festa coincidia com a feira anual, sendo também feitas outras manifestações de gosto popular como por exemplo, o arraial nocturno, a tourada à vara larga, a alvorada no Domingo, seguida de uma missa e uma procissão cujo acto de se enfeitarem os andores com flores e fitas e, se levarem colchas no meio da procissão, onde se depositam esmolas para a igreja e/ou Comissão de Festas, vai de encontro aos princípios de fertilidade do povo que se uniram, numa relação de interdependência, à religião.
Actualmente é um pouco diferente, já não se faz a feira, fazem-se sim outras acções mais aptas ao espírito do tempo, é-nos disto exemplo o tiro aos pratos e as várias provas de atletismo.
Uma outra forma para comprovar a simbiose entre a religião e as crenças pagãs são as lendas e a já referida lenda da Capela de Santo António, abaixo narrada é-nos disso testemunho.
Para concluir, temos que deixar claro que tudo isto é válido na compreensão do processo religioso das gentes do sul: gente agarrada à terra, de grande alegria, mas não menos crente por isso. Gente que ainda hoje vive religiosamente de acordo com os seus anseios.
Destruir estas tradições, seria o mesmo que exterminar a identidade interminável de um povo, maioritariamente idos, com princípios já muito enraizados. Seria o mesmo que tentar abalar os únicos potenciais que ainda restam às povoações do interior, cuja localização geográfica não é favorável a outras formas de exploração que não sejam as turísticas.

O caminho ideal, para não fazer destas freguesias um deserto - e, agora falamos em particular de Arez – está longe de ser alcançado. No entanto, cabe-nos a todos nós valorizar os seus únicos potenciais, a tradição.
Só tendo este gosto valorativo e compreensivo, sem cair em excessos, é que podem ir surgindo planos imaginativos e racionalizados para o aproveitamento destes potenciais.
Teresa Subtil in “O Distrito de Portalegre” – 3/7/1998