O texto que apresentamos da autoria de Teresa
Subtil e publicado em 1998, trata do culto popular a Santo António, em Arez. O artigo começa por
fazer uma introdução biográfica sobre a figura de Santo António, e
desenvolvendo, depois, algumas explicações sobre a importância e a popularidade
deste Santo, nas tradições nacionais. Transcrevemos, aqui, a parte, respeitante
a Arez, objectivo central do texto.
As
manifestações do culto de Santo António em Arez
Em
Portugal não existe um dia específico para as manifestações do culto a Santo
António; existem sim, vários dias de culto local cujo impacto e celebridade são
variáveis. Estes mesmos dias, ainda hoje celebrados, são o reflexo vivo da
importância deste Santo na pregação da religião. A tradição de Arez é disso um
exemplo.
Primeiro,
existem dois tipos de manifestações de culto a Santo António na freguesia de
que estamos a tratar, são elas:
- A
Romaria à Capela deste mesmo Santo, culto de já há vários séculos, que ocorre
na 2ª feira a seguir ao dia de Páscoa, junto à Capela rural do séc. XIV, por
sua vez situada a 3 Km
da povoação de Arez e cuja construção está ligada à lenda que iremos apresentar
em seguida. Esta
romaria é, sem dúvida alguma, o testemunho vivo da simbiose entre o espírito de
festa e fertilidade das gentes do campo e a prática da religião correspondente
aos anseios dessas mesmas gentes da terra. O seu objectivo consiste em
aproximar os diversos grupos familiares que vão até à Capela orar, do seu modo,
ao Santo António; outrora poder-se-ia encontrar a imagem deste Santo durante
todo o ano na Capela, contudo, hoje, a imagem encontra-se na Igreja Matriz de
Arez, de onde é levada no referido dia, para o campo com o intuito de se lhe
fazer em honra uma procissão e, um convívio com refeição durante todo o dia.
-
As festas de Verão em honra de Santo António são uma outra tradição, ainda que
um pouco mais recente, também são reflexo secular da identidade do culto com as
gentes do campo e os seus princípios mais sagrados, como por exemplo os de
fertilidade e alegria.
Esta
tradição decorre no primeiro fim de semana de Agosto e na 2ª feira que se lhe
segue; antigamente a festa coincidia com a feira anual, sendo também feitas
outras manifestações de gosto popular como por exemplo, o arraial nocturno, a
tourada à vara larga, a alvorada no Domingo, seguida de uma missa e uma
procissão cujo acto de se enfeitarem os andores com flores e fitas e, se
levarem colchas no meio da procissão, onde se depositam esmolas para a igreja
e/ou Comissão de Festas, vai de encontro aos princípios de fertilidade do povo
que se uniram, numa relação de interdependência, à religião.
Actualmente
é um pouco diferente, já não se faz a feira, fazem-se sim outras acções mais
aptas ao espírito do tempo, é-nos disto exemplo o tiro aos pratos e as várias
provas de atletismo.
Uma
outra forma para comprovar a simbiose entre a religião e as crenças pagãs são
as lendas e a já referida lenda da Capela de Santo António, abaixo narrada
é-nos disso testemunho.
Para
concluir, temos que deixar claro que tudo isto é válido na compreensão do
processo religioso das gentes do sul: gente agarrada à terra, de grande
alegria, mas não menos crente por isso. Gente que ainda hoje vive
religiosamente de acordo com os seus anseios.
Destruir
estas tradições, seria o mesmo que exterminar a identidade interminável de um
povo, maioritariamente idos, com princípios já muito enraizados. Seria o mesmo
que tentar abalar os únicos potenciais que ainda restam às povoações do
interior, cuja localização geográfica não é favorável a outras formas de
exploração que não sejam as turísticas.
O
caminho ideal, para não fazer destas freguesias um deserto - e, agora falamos
em particular de Arez – está longe de ser alcançado. No entanto, cabe-nos a
todos nós valorizar os seus únicos potenciais, a tradição.
Só
tendo este gosto valorativo e compreensivo, sem cair em excessos, é que podem
ir surgindo planos imaginativos e racionalizados para o aproveitamento destes
potenciais.
Teresa
Subtil in “O Distrito de Portalegre” – 3/7/1998