O
Mendigo
(Natal
é quando um homem quiser - Ary dos Santos)
Estendendo
a rôxa mão à caridade,
Lá
vai de porta em porta o bom velhinho,
Cabelos
cor de neve do caminho,
E
nostálgicos olhos de saudade!
Também
teve o ardor da mocidade,
Um
braço forte no labor do ancinho,
Mas
os anos passando, de mansinho,
Quebraram
o vigor da tenra idade!
E o
homem, que viveu a luta insana
Da
vida, tem a paga desumana,
Contida
no dizer de uma oração!...
Soldado
ignoto, morrerá um dia...
E o
mundo ficará sem a arrelia
De
repartir migalhas do seu pão!
-
José Gomes Correia
Natal
de Hoje
Da
velha enegrecida chaminé de ontem
não
chovem prendas.
De
lá também Jesus, seu pai ou sua mãe
não
espargem prendas,
pois
nunca se soube, de entre a tríade,
qual
foi o que algum dia
tenha
derramado prendas.
Prendas?
Hoje, Ontem e sempre?
A
donde?
São
prendas a miséria, a sede, a fome, a morte
que
grassam por toda a parte
ou
pelas três quartas partes do mundo?
Dadas,
espargidas, derramadas?
As
prendas só podem ser dadas
-
dadas com o doce calor da verdade,
da
pura entrega e do sentir profundo.
Dadas?
Por aqueles que hora a hora
só
tecem cruzes no peito,
bajulando
a todo o instante
os
ricos mais que os pobres;
a
tríade que parece não saber pesar, medir, palpar,
a
imensíssima diferença que existe
entre
tudo aquilo que é excesso
e
tudo o resto – três quartas partes do mundo –
que
é defeito e que persiste?
António
Bento (7/12/2002)