Foi
há 70 anos, a 27 de Maio de 1945. Em Portugal e na Europa raiava um sol
brilhante e promissor, o céu tingia-se de um azul de esperança, prenunciando o
fim da 2ª Guerra Mundial.
Em
Nisa, no Jardim Municipal, era inaugurado um busto de homenagem e
reconhecimento ao Dr. Francisco Miguéns, pelo trabalho desenvolvido enquanto
médico municipal.
O
busto foi erguido após subscrição pública sob a iniciativa de alguns homens
bons de Nisa, entre estes, o professor José Francisco Figueiredo, que a
propósito editou uma pequena brochura intitulada "O Monumento" na
qual faz a evocação do ilustre médico nisense e recorda os passos dados para a
concretização da iniciativa.
Não
por acaso e fruto de idênticas circunstâncias - o reconhecimento pelas
qualidades profissionais e humanas, e dedicação à causa pública - trinta e seis
anos mais tarde, em Agosto de 1981, outro médico, o Dr. António Granja, foi
alvo de impressionante manifestação de júbilo e agradecimento por parte da
população do concelho, na presença do Presidente da República, Ramalho Eanes,
que inaugurou o busto implantado no coração da Porta da Vila, largo que passou
a ostentar o nome do ilustre clínico.
Uma
vida ao serviço da comunidade
O
doutor Francisco da Graça Miguéns, médico notável e bondoso, nasceu em Nisa, a
2 de Abril de 1854, filho de Brás Miguéns Beato e de Maria da Cruz. Exerceu
durante 34 anos com grande amor, sentido profissional e exemplar dedicação à
sua terra e às populações do concelho, o cargo de médico municipal.
Frequentou
o Liceu de Santarém onde se revelou como um aluno brilhante. Formou-se em
Medicina e Filosofia na Universidade de Coimbra, tendo conquistado diversos
prémios e distinções. Após a obtenção do seu diploma universitário, foi
convidado pelo Corpo Docente da Universidade para prosseguir como professor de
Medicina naquele prestigiado estabelecimento de ensino, convite que declinou,
tendo preferido voltar à sua terra, sendo nomeado médico municipal a 11 de
Agosto de 1880, tomando posse do cargo nesse mesmo dia.
Vítima
de doença, faleceu a 10 de Outubro de 1933.
Entregue
ao bem e ao culto da sciência,
E
quando a morte veiu, - a consciência
Tinha
a pureza e a luz de uma alvorada.
Sua
alma foi, na terra, a enamorada
De
tudo o que há de belo na existência,
Tudo
o que, pela forma ou pela essência,
Do
Ideal atinge a r´gião imaculada.
E
sempre em torno dele, suavemente,
Um
murmúrio de prece esvoaçou:
-
Era o coro de bênçãos, puro e ardente,
De
tantas criancinhas que afagou,
De
tanto pobrezinho e tanto doente
Que
o seu coração de oiro consolou.
12/10/1933
– Dias Loução