Condução
do Correio para o Pé da Serra – (Sessão de 22 de Março de 1945)
"Pelo
presidente foi exposta à Câmara a troca de correspondência havida entre o
Município e o chefe da estação local dos CTT, que pretende o interesse da Câmara
no sentido da condução de malas para a sede da freguesia de S. Simão seja feita
por importância inferior a cinco (5) escudos diários.
A
Câmara deliberou que fosse respondido afigurar-se o caso como insolúvel dado
que a referida importância de cinco escudos se acha modestíssima.
Mais
deliberou Câmara solicitar à Administração dos CTT que a citada condução não
fosse reduzida a três dias por semana, continuando, como desde há muitos anos,
a ser feita diariamente, pois que, o prejuízo alegado (dois escudos e cinquenta
centavos diários) parece não justificar tal diminuição que acarretaria inúmeros
prejuízos e transtornos aos povos interessados.
Um
pouco de História
Até
aos anos 70 do século passado, a condução do correio para as freguesias rurais
do concelho de Nisa onde não existiam estações dos CTT, era feita, diariamente,
por pessoas, que recebiam para o efeito uma gratificação. Os serviços da
Mala-Posta, extinta na segunda metade do século XIX, continuavam, com outra
designação, a efectuar-se no país rural e interior, com meios de locomoção em
tudo idênticos aos existentes no tempo da Mala Posta.
Conheci
duas das mulheres que todos os dias, fizesse sol ou chuva, efectuavam o
transporte da mala de correio para o Pé da Serra: a tá Mari Ana do Toco e a tá
Mari Galacha. Recebiam, em contrapartida, uma bagatela para tamanho esforço, um
“passeio” diário, entre Nisa e Pé da Serra e volta, num caminho em terra
batida, cheio de pedras, pó e buracos ou repleto de lama no tempo invernoso.
Em
época de miséria, cinco escudos e mais alguma coisa que as “montesinhas” lhes
davam em troca do açúcar, do remédio ou do avio da mercearia, ajudavam ao
precário sustento do lar.
Mas
não se pense que os míseros cinco escudos (5) eram pagos de bom grado. Em 1945,
alguns meses antes do fim da 2ª guerra mundial, uma carta endereçada pelo chefe
da estação dos CTT de Nisa à Câmara Municipal, pretendia que esta se
“interessasse” ou movesse influência para que tal serviço fosse feito por um
preço inferior.
Na
época, tal como agora, a prestação de serviços públicos às populações do
interior era visto na base do lucro e a redução ou extinção de serviços, como
medida de “racionalização”. A Câmara de Nisa, presidida pelo Dr. José Beato
Caldeira Miguéns e tendo como vereadores José Dinis Paralta e José dos Santos
Marques de Macedo, não só não atendeu o “pedido” do chefe da estação
telégrafo-postal de Nisa como solicitou à Administração Geral dos CTT que o
serviço de condução de correio para a sede da freguesia de S. Simão continuasse
a ser feito diariamente e se mantivesse, dessa forma o apoio às populações.
Mário
Mendes