Ai!
Como o tempo passa, pois, já lá vão 40 anos e ainda me lembro da primeira
televisão que apareceu em Nisa.
Não
sei se é bom falar de pessoas que fizeram parte deste mundo, mas em poucas
linhas, vou assim recordá-lo e descrevê-lo, tal como ele era, considerando-o um
“homem bom” da nossa terra.
Os
mais ricos davam esmolas, pois “quem dá aos pobres empresta a Deus”, ditado que
aprendi no livro da primeira classe. Mas, como ele não podia dar esmolas e
pensando sempre nos outros, todos os dias o bom do homem instalava a sua
televisão na vitrina da sua loja comercial, virada para a rua para que os
habitantes de Nisa a pudessem ver.
O
homem que se prestava, diariamente, a partilhar o “seu” televisor era, nem mais
nem menos, o senhor Isaac Araújo que com grande humor e boa disposição,
satisfazia assim as nossas ilusões.
A
Praça da República, nessa altura parecia mais um cinema ao ar livre que outra
coisa, dado que as crianças e os adultos vindos dos quatro cantos da vila,
traziam consigo cadeiras, “tropeças”, para se instalarem em frente do pequeno
écran televisivo.
Num
desses dias lá estavam também os nossos pais, instalados, depois de um dia de
trabalho árduo no campo e não sentindo o cansaço da lavoura, da ceifa e de
outras penosas tarefas.
Lembro-me
bem, era a reportagem da Volta a Portugal em Bicicleta, era Verão e lá
estávamos nós para aplaudirmos os nossos “ases do pedal”, simpatizando uns com
o Alves Barbosa, outros torcendo pelo Ribeiro da Silva. Nesse dia não chegámos
a aplaudir os nossos ídolos, pois que o nosso “cinema” teve que se evacuado devido
a forte trovoada que apagou a televisão e nos fez chegar a casa repassados pela
chuva que caíra.
No
dia seguinte tínhamos esquecido o percalço e lá estávamos novamente, com os
gaiatos a chegarem primeiro e a ocuparem os lugares da frente, mesmo “colados”
à montra. Outros preferiam ir ver na vitrina do Café dos Ricos, como chamávamos
ao Café Park (hoje encerrado) que tinha também televisão, não voltada para a
rua, mas que vaiamos através dos espelhos.
Enfim,
tempos que já não voltam. Mais tarde no “velho” salão do Sport Nisa e Benfica,
a direcção mandou instalar um televisor para os sócios e nós, os mais jovens
para lá nos mudámos e onde víamos os episódios preferidos: “ O Homem
Invisível”, Os Quatro Homens Justos”, Zorro, Ivanhoe, Robin dos Bosques, Danger
Man, etc., sendo o Bonanza o preferido pela maioria.
Desta
série recordo que a malta tinha as suas preferências, simpatizando uns com o
Adam, outros com o gordo Hoss, outros ainda com o Joe, havendo também aqueles
que desinteressados da televisão, brincava ao “monta a cavalo”, à “zuca”, ou à
“cabra-cega”, até que aparecessem os mais “poderosos”, pois naquele tempo todos
tinham medo da guarda (GNR).
Ao
terminar esta crónica queria homenagear os “homens do bons” da nossa terra,
homens que com o seu gesto, tão simples por vezes, sempre souberam conquistar
os nossos corações.
António
Conicha – “Jornal de Nisa”- 6/1/1999