As
grades do jardim público de Nisa- Alguns elementos para a sua história *
Tal
como os edifícios, as pontes e outras obras de engenharia - civil ou militar -
também as pequenas estruturas que modelam o espaço urbano ou rural, têm a sua
história.
A
do gradeamento do jardim público não deixa de ser curiosa, por estar (ficar)
ligada a alguns factos e circunstâncias políticas, desde a sua implantação até,
agora, à sua remoção (arranque). Uma história que se conta com o recurso à consulta de documentos do acervo do Arquivo Histórico de Nisa. Tantas e gostosas histórias que o mesmo encerra...
Um
gradeamento "monárquico" e "republicano"
A
ideia de implantar, no Rossio de Dentro, um gradeamento sobre o muro de suporte,
partiu do último executivo municipal monárquico que serviu o concelho de Nisa,
tendo à frente o dr. Mário de Miranda Monteiro, a quem se deve, entre outras
obras, o aformoseamento do Rossio (actual zona da Alameda) com a plantação de
plátanos.
Lançado
o concurso para a feitura e colocação do gradeamento, ainda durante a
Monarquia, foi já no período da República que a obra teve lugar e foi
concluída, no início de 1911.
Há
93 anos, que o gradeamento do Rossio de Dentro, primeiro, e do Jardim Público, depois,
a partir de 1932, se encontrava implantado no espaço nobre da vila.
Agora (2005),
tal como no poema, "jaze morto e apodrece". Um golpe profundo, vil,
foi desferido na memória e no sentimento de muitos nisenses, ficando a manchar
- tal como, aliás, outras "soluções" arquitectónicas e urbanísticas
com que, ultimamente, temos sido "presenteados" -, uma obra há muito
desejada, mas feita sem a participação, nalguns casos, à revelia, dos seus
principais destinatários: a população de Nisa.
O
derrube "filipino"
Por
coincidência - ou talvez não - o último troço que restava do gradeamento, foi
arrancado no passado dia 1º de Dezembro, como a querer assinalar o fim do
domínio filipino, em 1640. Só que esta obra - a implantação do artístico
gradeamento - não foi feita por "espanhóis", mas sim projectada e
realizada por nisenses.
Não
a deixaram completar 100 anos, como aconteceu com o Coreto, que vai manter-se
no local e fica a assinalar uma época, a nível da arquitectura e da promoção da
cultura, através da música.
Que
viva a música. Que estralem os foguetes e morram os "velhos do
Restelo". Sobre os escombros das grades e da memória, surgirá a
modernidade, voarão em vertiginosa velocidade os "skates" e outras
enormidades importadas dos States.
O
espaço vivido terá mesmo vida. Não será um espaço de todos? Que importa?
Importante é requalificar, erguer de novo, destruir pela raíz, não deixar
qualquer marca do regime anterior. Daqui a uns meses, quando a obra estiver
pronta, "linda", inaugurada, na véspera da disputa dos votos, quem se
vai lembrar de umas grades "monárquicas" e "republicanas"
de 1911?
DOCUMENTOS
Concurso
para fornecimento e collocação de uma grade e oito candieiros, tudo de ferro.
Aos
quatro dias do mez de Setembro de 1910, Jayme Marçal Pimentel Fragoso, vereador
servindo de presidente da mesma Câmara e tendo dado onze horas da manhã. Foram
apresentadas cinco propostas.
Edital:
Vedação, sobre o muro de suporte existente no Rocio de Dentro, desta villa.
1º
A grade deve ter o comprimento de 118 metros , sendo uma pequena parte em curva,
onde o muro faz volta entre duas ruas que se cruzam em angulo recto.
2º
A grade terá os supportes necessários para sua conveniente fixação; 3ª Os candieiros serão
de collunas, decorativos, e serão colocados 2 nas extremidades da grade, 2 nos
lados da escada de cantaria, que fica aproximadamente a meio da grade e os
restantes, intermédios,
servindo todos de supporte e apoio à grade, dispensando, portanto, em taes pontos
de supporte de fixação.
Verba
orçamental 350$000 reis
Nisa,10/8/1910
- O Presidente da Câmara: Mário Monteiro
Foram
apresentadas várias propostas: Abel M. de Carvalho & Irmão, do Crato; Lino
Martins Cardoso, da Figueira da Foz; Empreza Industrial Portuguesa, de Lisboa;
Joaquim Porto Basso, de Niza; José Maria Rafael Malhado, de Niza, 348$000 reis.
Auto
de adjudicação, do fornecimento e collocação de uma grade e oito candieiros,
tudo de ferro, no Rocio de Dentro, d´esta villa de Niza, feita a José Maria
Raphael Malhado pela quantia de 348$000 reis.
Aos
tres dias do mez de Outubro do anno de mil novecentos e dez, n´esta villa de
Niza, paços do Concelho e secretaria da Camara Municipal, compareceu o Senhor
Doutor Mario Augusto de Miranda Monteiro, presidente da mesma Camara, comigo
secretario d´esta, e pelo mesmo senhor presidente foi declarado, em virtude da
deliberação hoje tomada pela referida Camara, que adjudica, para todos os
effeitos legaes, a José Maria Raphael Malhado, casado, ferreiro, residente
n´esta villa e n´este acto presente, o fornecimento e colocação de uma grade e
oito candieiros de illuminação, tudo de ferro, com as condições do respectivo
concurso.
Prazo
de execução, fornecimento e colocação: até 31 de Dezembro, podendo, todavia prorrogar-se
o dito prazo se isso for necessário, ao que tudo se obrigou o senhor José M R.
Malhado.
Mário Mendes in
"Jornal de Nisa"