O Cine Teatro de Nisa completou, o ano passado, 75 anos de
existência. Pouca gente deu pelo facto e disso não veio grande mal ao mundo.
Mas a história do grande e vetusto edifício merece ser contada e conhecida de
todos os nisenses, nem que seja para o apontar como exemplo - raro, na nossa
terra - de bairrismo e de congregação de esforços para a prossecução de um objectivo
comum. Este, em Nisa, chamou-se Teatro, Cinema e Cultura.
A história dos últimos dez anos do Cine Teatro, ou seja,
após a sua remodelação, concluída em 1997, vem profusamente descrita na Agenda
Cultural do Município, relativa ao mês de Outubro. Para “retratar” dez anos (10
anos a viver cultura), faz-se uma viagem até à centúria de oitocentos e aos
primórdios das representações teatrais em Nisa.
Tão extensa descrição, esquece, no entanto, que as obras de
recuperação da grande sala de espectáculos da vila, teve como protagonistas um
elenco camarário (da mesma “cor”, por sinal, do vigente) que não tratou,
apenas, de reerguer um edifício em acelerado estado de agonia, mas, antes, teve
de desencadear um processo, não menos complexo e dificultoso, para a cedência,
a título precário, do imóvel.
As obras demoraram, choveram as críticas, inclusive, sobre a
oportunidade do investimento, e de “fazer filhos em mulheres alheias”, como
chegou a apontar-se em sessões da Assembleia Municipal.
Nisa ganhou uma sala de espectáculos, considerada uma das
melhores do Alentejo. José Manuel Basso e os elencos camarários a que presidiu,
foram os responsáveis pela obra, mérito que também deve ser extensivo aos
dirigentes da Santa Casa da Misericórdia de Nisa que se esforçaram por tornar o
sonho realidade.
Uns e outros, compreenderam, como Brecht que “não
construíram Tebas, a das sete portas” e não quiseram, por isso, e como é “moda”
actual, o seu nome numa qualquer placa de granito, a assinalar o feito. A obra
teve técnicos, projectistas, operários, foram eles que fizeram a grande
transformação do Cine Teatro.
Assinalar “dez anos a viver Cultura”, é elevar, com
redobrado júbilo, a excelência de uma casa e de um equipamento cultural de que
nos devemos orgulhar, mas não pode constituir um pretexto para “apagar” do rumo
da história aqueles que, de forma directa ou indirecta, contribuíram, de modo
substancial, para dar nova vida ao sonho inicial de José Vieira da Fonseca e de
Manuel Granchinho.
Assinalemos, com orgulho e alegria, os 75 anos da
inauguração e os 10 anos de remodelação do nosso Cine Teatro, mas é bom que não
sejamos “mais papistas do que o papa”...
Mário Mendes - in "Jornal de Nisa" - 17/10/2007