quarta-feira, 13 de julho de 2016

PONTÁ BITÉFES: O nosso Cine Teatro

O Cine Teatro de Nisa completou, o ano passado, 75 anos de existência. Pouca gente deu pelo facto e disso não veio grande mal ao mundo. Mas a história do grande e vetusto edifício merece ser contada e conhecida de todos os nisenses, nem que seja para o apontar como exemplo - raro, na nossa terra - de bairrismo e de congregação de esforços para a prossecução de um objectivo comum. Este, em Nisa, chamou-se Teatro, Cinema e Cultura.
A história dos últimos dez anos do Cine Teatro, ou seja, após a sua remodelação, concluída em 1997, vem profusamente descrita na Agenda Cultural do Município, relativa ao mês de Outubro. Para “retratar” dez anos (10 anos a viver cultura), faz-se uma viagem até à centúria de oitocentos e aos primórdios das representações teatrais em Nisa.
Tão extensa descrição, esquece, no entanto, que as obras de recuperação da grande sala de espectáculos da vila, teve como protagonistas um elenco camarário (da mesma “cor”, por sinal, do vigente) que não tratou, apenas, de reerguer um edifício em acelerado estado de agonia, mas, antes, teve de desencadear um processo, não menos complexo e dificultoso, para a cedência, a título precário, do imóvel.
As obras demoraram, choveram as críticas, inclusive, sobre a oportunidade do investimento, e de “fazer filhos em mulheres alheias”, como chegou a apontar-se em sessões da Assembleia Municipal.
Nisa ganhou uma sala de espectáculos, considerada uma das melhores do Alentejo. José Manuel Basso e os elencos camarários a que presidiu, foram os responsáveis pela obra, mérito que também deve ser extensivo aos dirigentes da Santa Casa da Misericórdia de Nisa que se esforçaram por tornar o sonho realidade.
Uns e outros, compreenderam, como Brecht que “não construíram Tebas, a das sete portas” e não quiseram, por isso, e como é “moda” actual, o seu nome numa qualquer placa de granito, a assinalar o feito. A obra teve técnicos, projectistas, operários, foram eles que fizeram a grande transformação do Cine Teatro.
Assinalar “dez anos a viver Cultura”, é elevar, com redobrado júbilo, a excelência de uma casa e de um equipamento cultural de que nos devemos orgulhar, mas não pode constituir um pretexto para “apagar” do rumo da história aqueles que, de forma directa ou indirecta, contribuíram, de modo substancial, para dar nova vida ao sonho inicial de José Vieira da Fonseca e de Manuel Granchinho.
Assinalemos, com orgulho e alegria, os 75 anos da inauguração e os 10 anos de remodelação do nosso Cine Teatro, mas é bom que não sejamos “mais papistas do que o papa”...
Mário Mendes - in "Jornal de Nisa" - 17/10/2007