Manuel Joaquim Temudo Barreto, faleceu no passado dia 8 de
Junho, no fim de uma vida de 86 anos dedicados ao ensino, à cultura e à
solidariedade social. Nascido em Nisa, Manuel Joaquim Temudo Barreto foi
professor do ensino básico e director escolar. Desde cedo a sua personalidade
multifacetada o encaminhou para vários campos da cultura e do saber, na procura
sempre ávida de novos conhecimentos, mesmo para além-fronteiras. Assim lhe
nasceu o gosto, entre outros, pelo rádio-amadorismo, em que foi pioneiro em
Nisa, e pela fotografia, onde se destacou pela elevada qualidade dos seus
trabalhos, quer ao nível das técnicas – de inegável primor para a época – quer,
sobretudo, pelas temáticas desenvolvidas.
Nisa e o seu concelho, ficam a dever-lhe um importante e
valiosíssimo acervo de fotografias testemunhando aspectos únicos das variadas
fainas e ciclos agrícolas. O “Ciclo do Pão” é, indiscutivelmente, um dos seus
melhores trabalhos, não apenas como retrato de uma época historicamente
definida, como pela qualidade dos textos que lhe dão suporte. Igualmente de
grande valor patrimonial e histórico para o concelho e região, são as suas
fotos a preto e branco (foram sempre as preferidas) ilustrando outras
actividades quotidianas do concelho, especialmente as de Nisa.
Um espólio de incalculável
valor patrimonial, histórico e sentimental que não poderá perder-se e sobre a
autarquia deverá envidar todos os esforços para que seja preservado e
divulgado. São conhecidas as fotos que registou e de que nos deu conta numa
belíssima exposição na Casa da Cultura, sobre olaria de Nisa, os monumentos e
os bordados tradicionais. Bordados de que ele seria, afinal, um dos principais
defensores e dinamizador quer pela acção que desenvolveu nesse campo na criação
e manutenção da Escola de Bordados na Misericórdia de Nisa, quer ainda pelos
inúmeros trabalhos de investigação sobre o artesanato nisense de que deixou
colaboração dispersa em vários jornais e revistas e ainda na publicação, em
1986, da obra “Alinhavados de Nisa”, pequenos opúsculo que constitui hoje em
dia, referência indispensável para todos os estudiosos desta matéria.
Para além destas actividades, Temudo Barreto desempenhou
vários cargos directivos na Santa Casa da Misericórdia de Nisa, nomeadamente,
provedor, vice-provedor e secretário em vários elencos e mandatos, experiências
que lhe deram alguns conhecimentos desta problemática e sobre a qual se
debruçou em profundidade, deixando inúmeros textos e colaboração dispersa por
alguns jornais e revistas da especialidade.
A história e desenvolvimento da Misericórdia eram, de resto,
uma das suas actuais preocupações e desejo de investigação, como o atesta um
recente trabalho em que historia a fundação da Instituição e refere os
principais momentos da sua vida até à actualidade. Um trabalho que terá deixado
incompleto, bem como a sua vontade de colaboração no nosso jornal, manifestada
dias antes da sua morte.
Morreu o director Barreto. O funeral realizado ao fim da
tarde de 3ª feira constituiu uma sentida manifestação de pesar por parte da
população, familiares, amigos, pessoal da Santa Casa, que não quiseram deixar
de lhe testemunhar o último adeus.
Mário Mendes - Jornal de Nisa - 17/6/1998