O programa é de Julho de 1941 e por ele se mostra a grande
afeição das gentes de Nisa ao teatro.
Por aqui passava e estacionava durante meses, a Companhia
Rafael de Oliveira, com o seu Teatro Desmontável e que em Nisa e arredores
deixou um impressionante registo de admiráveis actuações. As pessoas mais
idosas da terra ainda se lembram bem da permanência de Toni de Matos, o grande
cantor romântico português e que em Nisa (ou Niza como vem no cartaz)
frequentou a Escola Primária. Outros talentosos artistas tiveram aqui e por via
da Companhia Rafael de Oliveira, o seu "baptismo teatral".
O espectáculo de teatro "A Calúnia" como tantos
outros, eram complementados com variedades musicais e neste dia actuou o cantor
Toni de Matos, acompanhado à guitarra e à viola por dois amadores locais, os
"exímios tocadores" José Velez Metelo e José de Oliveira Ramos,
conhecido e popular enfermeiro que desempenhou as suas funções no antigo
Hospital da Misericórdia, na rua Capitão Pais de Morais. Um outro artista local
indicado no programa foi Laurentino Ramalhete, tratado como "distinto
amador" e que interpretou a sua "genial criação" Eu sou um Alho.
Esta "noite de arte, sensação e prazer" tinha
preços módicos que iam desde as "meias-entradas" a 1 escudo até às
"cadeiras" a 6 escudos. A "geral simples" que comportava o
maior número de espectadores, custava 15 tostões. Estávamos em 1941, o espectro
da guerra a pairar sobre o país e o mundo, ainda assim os artistas não
"desarmavam" e levavam o teatro à "província" em companhias
desmontáveis, sem apoios de ADNs e Câmaras, nem tão pouco utilizando os
espectáculos pagos pelo povo para destilarem qualquer ingrediente de verborreia
demagógica.