A Santa Casa da Misericórdia de Nisa, instituição com cerca
de 500 anos, vive agora um período de maior acalmia, passados que foram os anos
da existência de uma Comissão Administrativa, nomeada após a um período não
menos conturbado e que levou a divisões entre os Irmãos da Instituição.
Com um total de 106 trabalhadores, número que inclui um
médico e dois enfermeiros, a Misericórdia de Nisa é a segunda entidade empregadora
do concelho, prestando apoio social e assistência a 187 utentes, não contando
com o sector de educação que abrange 74 crianças, repartidas pela creche e
pré-escola.
São números que obrigam a um gestão criteriosa dos recursos
e não é de admirar que uma das palavras mais ouvidas do Provedor seja
contenção.
“No anterior mandato estive com vontade de abandonar devido
à minha profissão, mas insistiram para aceitar e aceitei devido às
circunstâncias.
Nós tomámos posse em Julho de 2007 na sequência de uma Comissão
Administrativa e a primeira medida que tomámos foi pagar os subsídios de férias
ao pessoal. Não havia dinheiro, tivemos que fazer uma livrança e temos vindo a
equilibrar as contas.
Os resultados, líquidos, do exercício de 2009 são de 47 mil
euros e podemos dizer que a situação financeira está ligeiramente equilibrada,
isto apesar de termos investido na instalação de painéis solares, mais de 80
mil euros, sendo 43 mil pagos pela Misericórdia, num período de 8 anos.
Adquirimos ainda quatro carrinhas, sendo uma paga a pronto e as restantes em
sistema de leasing.
Este ano vamos ter que proceder a obras de adaptação no
Jardim de Infância, para responder às exigências de novos métodos pedagógicos.
Na última Assembleia Geral foi aprovada a venda de alguns bens,
prédios rústicos e urbanos de valor diminuto, quer económico, quer agrícola.
Para 2010, o Plano de Actividades que elaborámos tem em
conta a situação financeira, definimos algumas prioridades e não entramos em
projectos que sabemos não poder concretizar. Vamos adquirir um fogão industrial
para a cozinha da instituição e uma caldeira a gás para o aquecimento central.
Pretendemos construir um pavilhão na Herdade da Marfeira e
outro na Herdade da Fajã, para além de prosseguirem as vedações em diversas
herdades, numa extensão de 15 mil metros.”
É este, segundo José Dinis, o plano possível, atendendo às
dificuldades económicas, que não são maiores porque, garante, “os balões de
soro da actividade agrícola vão aguentando, e este ano estamos a contar com uma
boa receita através da venda de cortiça.”
Questionado sobre os 50 anos da inauguração do Hospital da
Misericórdia e a sua posterior transformação em Centro de Saúde, o Provedor
refere que “o novo Centro de Saúde vai ser construído nos terrenos anexo ao
antigo hospital, pertença da Misericórdia” e que a Câmara “irá pagar 180 mil
euros, conforme avaliação feita pela própria autarquia e que nós aceitámos. O
pagamento vai ser diferido no tempo, em tranches, e uma coisa posso garantir:
esse dinheiro será para aplicar integralmente na transformação e beneficiação
da unidade de cuidados continuados.”
Quisemos saber qual o futuro aproveitamento das instalações
ocupadas actualmente pelo Centro de Saúde e José Dinis explicou-nos que não
tinham ainda um objectivo específico, mas que “ as mesmas iriam integrar-se na
função social que a Misericórdia desempenha, não estando excluída a ideia de
poderem ser instalados consultórios médicos e de se firmarem protocolos com
outras entidades, visando o aproveitamento e rentabilização das instalações”.
Dúvidas existem sobre o destino a dar á designada Casa da D.
Adelina, tendo o Provedor da Misericórdia esclarecido alguns dos problemas que
se têm colocado acerca do edifício.
“ A casa da D. Adelina foi adquirida para funcionar como
Centro de Noite, projecto que nunca se concretizou. Havia a ideia de ali
instalar um Centro para Doenças Degenerativas, foi apresentado um projecto às
entidades competentes, mas o projecto veio indeferido.
Então pensámos em não avançar com mais projectos que
significam gastar mais dinheiro. A Mesa Administrativa tem intenção de proceder
a algumas consultas, ouvir o parecer de entidades e associações de modo a que
haja propostas de ideias que levem ao aproveitamento do edifício. Se temos
alguns protocolos na área da Geriatria com a ADN não vejo por que não possamos
ter a nível de um concurso de ideias para a casa da D. Adelina.”
O aproveitamento da Praça de Touros foi outra das questões
que colocámos a José Dinis.
“A Praça de Touros é gerida directamente pela Misericórdia.
Cedemo-la, gratuitamente, a algumas associações com objectivos sociais e de
solidariedade, como é o caso dos Bombeiros e a outras entidades, a um preço
simbólico. Devo dizer que é uma infra-estrutura que nos dá prejuízo, quer com
os custos de manutenção, quer ainda com os custos devidos por inspecções e
alterações a que periodicamente estamos sujeitos.”
Um dos projectos mais falados durante anos foi a instalação
do Museu Augusto Pinheiro, pintor naif natural de Nisa e que faleceu como
utente da Santa Casa, tendo deixado a esta instituição um acervo apreciável de
quadros de sua autoria.
O Provedor da Misericórdia foi claro ao afirmar que “houve,
de facto, um projecto que nunca foi levado à prática e que entretanto, caducou.
O Museu estava projectado para ocupar o espaço da antiga oficina de carpintaria
na rua capitão Vaz Monteiro e como nunca foi concretizado, hoje temos dúvidas,
face às dificuldades económicas que atravessamos, que este seja realmente um
projecto para ser implementado pela Misericórdia.
O mesmo se põe em relação ao património arqueológico e à
arte sacra, onde temos um valioso espólio, que no entanto não temos divulgado
devidamente, por vários motivos, um deles a falta de condições de segurança.
Fizemos um protocolo com a União das Misericórdias e vai ser
feito um levantamento de todo o património com valor cultural e artístico.”
Voltando à função social da Santa Casa e tendo em conta os
princípios defendidos por D. António Lobo da Silveira, procurámos conhecer
quais os critérios de admissão de utentes.
“ A Santa Casa tem uma enorme lista de espera, sendo a
maioria constituída por mulheres.
Gerir as entradas não é fácil, pois há pessoas inscritas há
8 e 9 anos. O processo de admissão é, quanto a mim, transparente, sendo feito
um inquérito pela técnica social, que depois é avaliado em função das
necessidades de assistência pela assistente social que faz a proposta, sendo a
mesma ratificada por três elementos da Mesa.
As prioridades são definidas de acordo com o Compromisso,
dando a vez aos familiares dos mesários e empregados. Neste momento não temos
vagas, ainda que disponhamos de lugares para utentes designados como
temporários, situações de emergência por 15 dias e lugares para outro tipo de
temporários, por um período de 3 meses que poderão ser renovados.”
Sobre as respostas que poderão dar no futuro, José Dinis
acredita que “é possível avançar para o alargamento da extensão Lar, melhorar a
Unidade de Cuidados Continuados, mas tudo isso vai depender dos investimentos e
candidaturas que sejam aprovadas. Por nós, como disse, teremos uma “almofada”
de 180 mil euros para início de trabalhos, mas não sabemos em que sentido vão
evoluir as políticas sociais. O que posso dizer é que a sustentabilidade da
Santa Casa tem sido conseguida através das comparticipações da Segurança
Social. De outro modo seria impossível. As comparticipações são revistas
anualmente em função das valências que temos."
"Equilíbrio das contas é fundamental"
José Dinis Moura
Semedo, 55 anos, Chefe de Finanças, natural de Nisa é o Provedor da Santa Casa
da Misericórdia de Nisa, eleito em 13 de Fevereiro do corrente ano.
Um cargo que assumiu um pouco a contra gosto, por já ter
integrado o anterior elenco directivo, como vice-provedor e em parte pelo
inesperado falecimento do anterior Provedor, António José Correia.
Na conversa que manteve com “O Distrito de Portalegre”, José
Dinis revisitou um pouco da história desta instituição prestes a completar 500
anos de existência, num mês em que se assinalam (24.4.1960) os 50 anos da
inauguração do Hospital da Misericórdia, que constituiu durante décadas, uma
importante estrutura na saúde e assistência aos habitantes do concelho e de
povoações vizinhas.
Para o Provedor da Santa Casa, a ideia-chave é contenção e
equilíbrio das contas, ou não fosse ele um técnico das contribuições e
impostos.
Mário Mendes in "O Distrito de Portalegre" -
30/4/2010