quarta-feira, 29 de junho de 2016

A Misericórdia de Nisa nos 500 anos da sua fundação e nos 50 anos da inauguração do Hospital.

"Este compromisso e privilégios queremos e mandamos que se cumpra e guardem na Confraria da Vila de Nisa, assim tão inteiramente como ele se contém, porque assim havemos por bem. Feito aos 17 de Novembro de 1520. André Pires o fez. El-Rei".
A Santa Casa da Misericórdia de Nisa, instituição com cerca de 500 anos, vive agora um período de maior acalmia, passados que foram os anos da existência de uma Comissão Administrativa, nomeada após a um período não menos conturbado e que levou a divisões entre os Irmãos da Instituição.
Com um total de 106 trabalhadores, número que inclui um médico e dois enfermeiros, a Misericórdia de Nisa é a segunda entidade empregadora do concelho, prestando apoio social e assistência a 187 utentes, não contando com o sector de educação que abrange 74 crianças, repartidas pela creche e pré-escola.
São números que obrigam a um gestão criteriosa dos recursos e não é de admirar que uma das palavras mais ouvidas do Provedor seja contenção.
“No anterior mandato estive com vontade de abandonar devido à minha profissão, mas insistiram para aceitar e aceitei devido às circunstâncias.
Nós tomámos posse em Julho de 2007 na sequência de uma Comissão Administrativa e a primeira medida que tomámos foi pagar os subsídios de férias ao pessoal. Não havia dinheiro, tivemos que fazer uma livrança e temos vindo a equilibrar as contas.
Os resultados, líquidos, do exercício de 2009 são de 47 mil euros e podemos dizer que a situação financeira está ligeiramente equilibrada, isto apesar de termos investido na instalação de painéis solares, mais de 80 mil euros, sendo 43 mil pagos pela Misericórdia, num período de 8 anos. Adquirimos ainda quatro carrinhas, sendo uma paga a pronto e as restantes em sistema de leasing.
Este ano vamos ter que proceder a obras de adaptação no Jardim de Infância, para responder às exigências de novos métodos pedagógicos.
Na última Assembleia Geral foi aprovada a venda de alguns bens, prédios rústicos e urbanos de valor diminuto, quer económico, quer agrícola.
Para 2010, o Plano de Actividades que elaborámos tem em conta a situação financeira, definimos algumas prioridades e não entramos em projectos que sabemos não poder concretizar. Vamos adquirir um fogão industrial para a cozinha da instituição e uma caldeira a gás para o aquecimento central.
Pretendemos construir um pavilhão na Herdade da Marfeira e outro na Herdade da Fajã, para além de prosseguirem as vedações em diversas herdades, numa extensão de 15 mil metros.”
É este, segundo José Dinis, o plano possível, atendendo às dificuldades económicas, que não são maiores porque, garante, “os balões de soro da actividade agrícola vão aguentando, e este ano estamos a contar com uma boa receita através da venda de cortiça.”
Questionado sobre os 50 anos da inauguração do Hospital da Misericórdia e a sua posterior transformação em Centro de Saúde, o Provedor refere que “o novo Centro de Saúde vai ser construído nos terrenos anexo ao antigo hospital, pertença da Misericórdia” e que a Câmara “irá pagar 180 mil euros, conforme avaliação feita pela própria autarquia e que nós aceitámos. O pagamento vai ser diferido no tempo, em tranches, e uma coisa posso garantir: esse dinheiro será para aplicar integralmente na transformação e beneficiação da unidade de cuidados continuados.”
Quisemos saber qual o futuro aproveitamento das instalações ocupadas actualmente pelo Centro de Saúde e José Dinis explicou-nos que não tinham ainda um objectivo específico, mas que “ as mesmas iriam integrar-se na função social que a Misericórdia desempenha, não estando excluída a ideia de poderem ser instalados consultórios médicos e de se firmarem protocolos com outras entidades, visando o aproveitamento e rentabilização das instalações”.
Dúvidas existem sobre o destino a dar á designada Casa da D. Adelina, tendo o Provedor da Misericórdia esclarecido alguns dos problemas que se têm colocado acerca do edifício.
“ A casa da D. Adelina foi adquirida para funcionar como Centro de Noite, projecto que nunca se concretizou. Havia a ideia de ali instalar um Centro para Doenças Degenerativas, foi apresentado um projecto às entidades competentes, mas o projecto veio indeferido.
Então pensámos em não avançar com mais projectos que significam gastar mais dinheiro. A Mesa Administrativa tem intenção de proceder a algumas consultas, ouvir o parecer de entidades e associações de modo a que haja propostas de ideias que levem ao aproveitamento do edifício. Se temos alguns protocolos na área da Geriatria com a ADN não vejo por que não possamos ter a nível de um concurso de ideias para a casa da D. Adelina.”
O aproveitamento da Praça de Touros foi outra das questões que colocámos a José Dinis.
“A Praça de Touros é gerida directamente pela Misericórdia. Cedemo-la, gratuitamente, a algumas associações com objectivos sociais e de solidariedade, como é o caso dos Bombeiros e a outras entidades, a um preço simbólico. Devo dizer que é uma infra-estrutura que nos dá prejuízo, quer com os custos de manutenção, quer ainda com os custos devidos por inspecções e alterações a que periodicamente estamos sujeitos.”
Um dos projectos mais falados durante anos foi a instalação do Museu Augusto Pinheiro, pintor naif natural de Nisa e que faleceu como utente da Santa Casa, tendo deixado a esta instituição um acervo apreciável de quadros de sua autoria.
O Provedor da Misericórdia foi claro ao afirmar que “houve, de facto, um projecto que nunca foi levado à prática e que entretanto, caducou. O Museu estava projectado para ocupar o espaço da antiga oficina de carpintaria na rua capitão Vaz Monteiro e como nunca foi concretizado, hoje temos dúvidas, face às dificuldades económicas que atravessamos, que este seja realmente um projecto para ser implementado pela Misericórdia.
O mesmo se põe em relação ao património arqueológico e à arte sacra, onde temos um valioso espólio, que no entanto não temos divulgado devidamente, por vários motivos, um deles a falta de condições de segurança.
Fizemos um protocolo com a União das Misericórdias e vai ser feito um levantamento de todo o património com valor cultural e artístico.”
Voltando à função social da Santa Casa e tendo em conta os princípios defendidos por D. António Lobo da Silveira, procurámos conhecer quais os critérios de admissão de utentes.
“ A Santa Casa tem uma enorme lista de espera, sendo a maioria constituída por mulheres.
Gerir as entradas não é fácil, pois há pessoas inscritas há 8 e 9 anos. O processo de admissão é, quanto a mim, transparente, sendo feito um inquérito pela técnica social, que depois é avaliado em função das necessidades de assistência pela assistente social que faz a proposta, sendo a mesma ratificada por três elementos da Mesa.
As prioridades são definidas de acordo com o Compromisso, dando a vez aos familiares dos mesários e empregados. Neste momento não temos vagas, ainda que disponhamos de lugares para utentes designados como temporários, situações de emergência por 15 dias e lugares para outro tipo de temporários, por um período de 3 meses que poderão ser renovados.”
Sobre as respostas que poderão dar no futuro, José Dinis acredita que “é possível avançar para o alargamento da extensão Lar, melhorar a Unidade de Cuidados Continuados, mas tudo isso vai depender dos investimentos e candidaturas que sejam aprovadas. Por nós, como disse, teremos uma “almofada” de 180 mil euros para início de trabalhos, mas não sabemos em que sentido vão evoluir as políticas sociais. O que posso dizer é que a sustentabilidade da Santa Casa tem sido conseguida através das comparticipações da Segurança Social. De outro modo seria impossível. As comparticipações são revistas anualmente em função das valências que temos."
"Equilíbrio das contas é fundamental"
 José Dinis Moura Semedo, 55 anos, Chefe de Finanças, natural de Nisa é o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Nisa, eleito em 13 de Fevereiro do corrente ano.
Um cargo que assumiu um pouco a contra gosto, por já ter integrado o anterior elenco directivo, como vice-provedor e em parte pelo inesperado falecimento do anterior Provedor, António José Correia.
Na conversa que manteve com “O Distrito de Portalegre”, José Dinis revisitou um pouco da história desta instituição prestes a completar 500 anos de existência, num mês em que se assinalam (24.4.1960) os 50 anos da inauguração do Hospital da Misericórdia, que constituiu durante décadas, uma importante estrutura na saúde e assistência aos habitantes do concelho e de povoações vizinhas.
Para o Provedor da Santa Casa, a ideia-chave é contenção e equilíbrio das contas, ou não fosse ele um técnico das contribuições e impostos.
Mário Mendes in "O Distrito de Portalegre" - 30/4/2010