Depois das igrejas das
duas freguesias, a mais notável é a da Misericórdia, com seu magnífico hospital
ao lado, sita na Praça da Vila e junto dos Paços Municipais do concelho.
É de uma só nave, mas a
capela-mor é separada do resto por uma grade de madeira, com suas pinturas. O
tecto é de abóbada e tem bastante elevação. O arco da capela-mor, assim como a
porta de entrada, é de cantaria da terra e de forma e arquitectura gótica, tem
um belo altar na frente, com retábulo dourado e e duas imagens de Nossa
Senhora, simbolizando o mistério da Visitação. No centro está a Virgem da
Piedade com o filho querido nos braços, naquele lastimoso estado em que o
tiraram da cruz para O sepultar.
E, por cima, está
arvorado este precioso lenho, com o sagrado depósito que lhe foi confiado. Por
de traz está o trono e a tribuna, que iluminados e compostos, são os mais
lindos e formosos da vila.Do lado do Evangelho
está a bancada, onde a Mesa Administrativa da casa assiste às funções divinas
que manda celebrar. E, no fundo, por cima do pórtico de saída, o coro, com as
suas grades onde os doentes e convalescentes ouvem missa. Tem também dois
campanários, mas só um conserva sino; e esse é de sobejo, porque o seu tanger
fúnebre quase sempre anuncia alguma desgraça. Tem uma espaçosa sacristia onde
se reveste o clero e ajunta a Irmandade para sair aos enterros, com vários
armários, onde estão as imagens de Cristo e as bandeiras da casa e outros
misteres do serviço divino.
Há nesta igreja missa
quotidiana, por alma de diversos de instituidores de capelas; e duas
festividades: a da Semana Santa, com duas procissões e sermões nocturnos; e a
da Visitação, no dia 2 de Julho a que assiste a Irmandade e a Câmara Municipal
do concelho.
Havia sermões, também,
nas tardes dos domingos da Quaresma, pagos pelo Concelho; e ainda alguns anos
os houve, satisfeitos pelas rendas da Casa, mas, desde o ano de 1842 que
acabaram, porque, crescendo as despesas do hospital, pelo aumento da população,
não chegava o rendimento para tanto. E tem uma rica e
numerosa Irmandade com seu provedor, escrivão e tesoureiro e dez mesários de
primeira e segunda condição, eleitos anualmente segundo o Compromisso Geral
destas santas casas.
É a ela que cumpre o
religioso dever de sepultar os mortos e acompanhar os enterros, havendo por
isso a pequena esmola de 400 réis das pessoas humildes, e de 4 mil réis das
ricas, que são depositadas na tumba nova, que foi manada fazer para os Irmãos e
suas famílias."
Motta e Moura - Memória Histórica da Notável Vila de Nisa