segunda-feira, 6 de junho de 2016

NISA: A Igreja da Misericórdia descrita pelo Dr. Motta e Moura:

Depois das igrejas das duas freguesias, a mais notável é a da Misericórdia, com seu magnífico hospital ao lado, sita na Praça da Vila e junto dos Paços Municipais do concelho.
É de uma só nave, mas a capela-mor é separada do resto por uma grade de madeira, com suas pinturas. O tecto é de abóbada e tem bastante elevação. O arco da capela-mor, assim como a porta de entrada, é de cantaria da terra e de forma e arquitectura gótica, tem um belo altar na frente, com retábulo dourado e e duas imagens de Nossa Senhora, simbolizando o mistério da Visitação. No centro está a Virgem da Piedade com o filho querido nos braços, naquele lastimoso estado em que o tiraram da cruz para O sepultar.
E, por cima, está arvorado este precioso lenho, com o sagrado depósito que lhe foi confiado. Por de traz está o trono e a tribuna, que iluminados e compostos, são os mais lindos e formosos da vila.Do lado do Evangelho está a bancada, onde a Mesa Administrativa da casa assiste às funções divinas que manda celebrar. E, no fundo, por cima do pórtico de saída, o coro, com as suas grades onde os doentes e convalescentes ouvem missa. Tem também dois campanários, mas só um conserva sino; e esse é de sobejo, porque o seu tanger fúnebre quase sempre anuncia alguma desgraça. Tem uma espaçosa sacristia onde se reveste o clero e ajunta a Irmandade para sair aos enterros, com vários armários, onde estão as imagens de Cristo e as bandeiras da casa e outros misteres do serviço divino.



Há nesta igreja missa quotidiana, por alma de diversos de instituidores de capelas; e duas festividades: a da Semana Santa, com duas procissões e sermões nocturnos; e a da Visitação, no dia 2 de Julho a que assiste a Irmandade e a Câmara Municipal do concelho.
Havia sermões, também, nas tardes dos domingos da Quaresma, pagos pelo Concelho; e ainda alguns anos os houve, satisfeitos pelas rendas da Casa, mas, desde o ano de 1842 que acabaram, porque, crescendo as despesas do hospital, pelo aumento da população, não chegava o rendimento para tanto. E tem uma rica e numerosa Irmandade com seu provedor, escrivão e tesoureiro e dez mesários de primeira e segunda condição, eleitos anualmente segundo o Compromisso Geral destas santas casas.
É a ela que cumpre o religioso dever de sepultar os mortos e acompanhar os enterros, havendo por isso a pequena esmola de 400 réis das pessoas humildes, e de 4 mil réis das ricas, que são depositadas na tumba nova, que foi manada fazer para os Irmãos e suas famílias."
Motta e Moura - Memória Histórica da Notável Vila de Nisa