Faleceu no passado dia 13, em Portalegre, após
prolongada doença e sofrimento, o professor Dionísio da Graça Bicho Cebola. O
funeral de tão insigne nisense, realizado na sua terra natal no dia 14
constituiu uma profunda manifestação de pesar para familiares, amigos, antigos
colegas de profissão e antigos alunos.
Dionísio da Graça Bicho Cebola, após a conclusão
dos estudos liceais, frequentou a antiga Escola do Magistério Primário de Évora
onde obteve o diploma que o habilitou para o exercício da nobre profissão de
professor, mister que desempenhou de forma profícua e distinta, ao longo de
muitos anos e em diversas escolas da região e do país.
O seu carácter probo, disciplinado e disciplinador,
a preocupação permanente com a escola e o meio escolar, a que juntava o estudo
das questões relacionadas com a educação, granjearam-lhe a estima e
consideração dos seus superiores, sendo sem surpresa que ascendeu ao cargo de
inspector escolar e, mais tarde, ao de director escolar do Distrito de
Portalegre, cargo com que se aposentou.
Após – e antes mesmo - da aposentação, dedicou-se à
pesquisa de dados e elementos sobre o universo escolar do distrito e da região,
numa pesquisa metódica e porfiada que resultaram em obras de grande valor e
importância para a história da escola e da educação, num sentido mais lato, do
distrito de Portalegre.
Em 1983, em colaboração com Acácio Fernandes Lopes
Parreira e José Martins dos Santos Conde e sob o patrocínio da Assembleia
Distrital, Dionísio Cebola publicou “O Ensino Primário no Distrito de
Portalegre – Subsídios para a sua História”.
Mais tarde, em 1997 e com edição do autor, surgiu
“Direcções Escolares” – Subsídios para a sua História” e em 2001, em edição da
Câmara Municipal de Nisa, publicou “A Escola Primária no Distrito de Portalegre
– Subsídios para a sua História”.
Escusado será dizer que estes “subsídios” – fruto
de muitas horas e dias de estudo, compilação de dados e reflexões - têm
constituído, ao longo destes últimos anos, um acervo documental de extrema
importância e a que recorrem estudantes dos diversos graus de ensino, tanto
para trabalhos de uso mais restrito, como para outros, mais elaborados, a nível
de mestrados e doutoramentos, nos quais os temas da educação e a organização
escolar no distrito têm servido, quantas vezes e à falta de documentação
semelhante, para estudos que abarcam outros territórios.
À parte, o professor e o académico – que o foi e em
larga medida – Dionísio Cebola era um homem sociável que apreciava o convívio
entre amigos.
Com uma memória prodigiosa, não esqueço as
infindáveis histórias que me contava sobre a sua infância e juventude,
sobretudo, acerca da grande diversidade cultural e artística que existia em
Nisa.
Algumas dessas histórias, simples e cheias de
alegria, tive o prazer de as publicar no extinto “Jornal de Nisa”. As
descrições que me fazia do seu pai, o senhor João Augusto e do seu avô, de nome
Dionísio, como ele, e que eu conhecia como um homem, à primeira vista, austero,
e, logo a seguir, de uma excentricidade a toda a prova, revelaram-me o modus
vivendi da Rua Direita, a qual, a horas certas, se transformava num autêntico
auditório, tal a sinfonia dos instrumentos musicais de amadores.
Isso pouco interessa, dirá o leitor. É verdade. Só
amamos o que sentimos. Mas, estes “fragmentos” mostram, também, o carácter de
um homem, o seu amor à terra-mãe, a lembrança dos espaços vividos e que, estou
certo, acompanharam, Dionísio Cebola, enquanto professor, no calcorrear dos
caminhos e veredas que o levavam à escola.
A Escola do Distrito de Portalegre, com a sua
morte, fica mais pobre. E nós também.
Saibamos honrar a sua memória.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" -
20/8/2014