sábado, 21 de maio de 2016

Enfermeiro nisense homenageado em Portalegre

Palheta Mendes - Um exemplo de dedicação à causa pública
Profissional altamente qualificado é exemplo de dedicação à causa pública e à sua profissão, destacando-se ainda, a sua participação nas mais diversas actividades, de forma graciosa, das quais se destaca a sua colaboração com os Bombeiros Voluntários de Portalegre.
Nasceu em Nisa em 1953 mas, aos 20 anos de idade, trocou a sua terra natal por Portalegre. É na capital de Distrito que reside já lá vão 36 anos. No entanto, nunca colocou de parte as suas raízes e é ainda uma das pessoas que compra o jornal da terra para "saber as novidades", apesar de lá não ir, apenas de vez em quando, para visitar a mãe.
Confessando que se sente "mais de Portalegre do que de Nisa", até porque "foi a minha cidade de acolhimento e gosto muito desta terra", António Palheta Mendes recorda que começou a trabalhar em 1973 na Misericórdia, em Portalegre. Acabou por ter que cumprir serviço militar no Ultramar, trabalhando no Hospital Militar de Luanda, onde esteve também nos Cuidados Intensivos. Note-se que, na altura, este foi o primeiro serviço do país a trabalhar em hemodiálise.
Nos finais de 1975, Palheta Mendes regressa a Portalegre e, no Hospital, foi colocado nos Serviços de Especialidades, mas pouco tempo. Desde essa data que o Hospital foi a sua "segunda casa". Aqui trabalhou em vários serviços, como o Banco de Urgências, onde esteve sete anos. Segundo revela, foi esta área que o fez "despertar" para a emergência nos bombeiros. "Já tinha o bicho dos bombeiros porque o meu pai e o meu tio já tinham exercido esta profissão e, em Portalegre, a convide do comandante Belo Morais e do 2º comandante na (altura Vítor Bucho) fui convidado a ingressar na corporação da cidade", conta.
Depois do Banco passou para o Serviço de Medicina Homens durante cinco anos, regressou novamente ao Banco durante perto de oito anos e há 14 anos que trabalhava nos Cuidados Intensivos, último serviço que efectuou no Hospital até se reformar.
O enfermeiro admite que, ao longo da sua vida profissional, teve "experiência boas, onde aprendi várias coisas". Com mais quatro colegas, formou o plano de emergência do Hospital e foi a partir daqui que nasceu a formação do pessoal do Hospital na área da emergência, suporte básico e do plano de evacuação.
A formação foi sempre uma área que António Palheta Mendes gostou. Fez a integração de muitos colegas nos vários serviços por onde passou no Hospital de Portalegre, pois "os chefes delegavam-me essas funções".
Actualmente, a formação continua a fazer parte da sua vida, com excepção do Hospital. No entanto, "fiquei como pertencente à bolsa de formadores e assim, quando for necessário, têm a minha ajuda nesse campo", revela o enfermeiro, salientando que "quando ajudei a fazer formação não foi com interesse monetário, mas com interesse formativo, para ajudar a própria instituição".
Palheta Mendes revela ainda que, no Hospital, não fez especialidades, apenas na área da emergência, onde frequentou um curso de enfermeiro no INEM, o que lhe permitiu ingressar na área de emergência e nos Bombeiros, onde ainda permanece. Na corporação de Portalegre é enfermeiro e equiparado a oficial de Bombeiro e dentro em breve irá frequentar um curso para ficar como oficial de Bombeiro.
"Nunca gostei de tratar ninguém por tu"
Assumindo que foi uma pessoa que "sempre pactuei em nunca fazer a diferenciação das pessoas, mas sim tratá-las por igual", tanto no Hospital, como nos Bombeiros, Palheta Mendes afiança que é por essa razão que é conhecido.
O respeito pelo próximo foi outra das linhas que fez parte da sua vida. "Nunca gostei de tratar ninguém por tu, o que tem a ver com a educação que temos, porque a nossa população é maioritariamente envelhecida e os idosos não gostam de ser tratados por tu", justifica.
Ao longo dos anos, o enfermeiro fez várias amizades, até porque segue uma conduta de "falar com todas as pessoas e respeitá-las". Confessando que, nas Urgências e nos Cuidados Intensivos, "tive muitos casos críticos pelas mãos", Palheta Mendes garante que "nada me chocava". Uma decisão que tomou na sua vida é que "não levo os problemas para casa". "Quando acabo de fazer um acidente grave faço um briefing como forma de modelar o que correu bem e mal e quando acabo a tarefa não levo para casa", afiança, acrescentando que tenta sempre transmitir aos seus formandos o respeito e a não discriminação pelos doentes.
Debruçando-se ainda sobre a sua actividade profissional, o enfermeiro revelou que "na profissão temos os pais e os filhos". Assim, explica que "os pais são aqueles que nos deram a mão para sermos modelados de uma maneira que a profissão prossiga com bons elementos e como fui modelado por colegas antigos que me tentaram incutir na actividade o bem-estar das pessoas e o bom convívio entre os colegas, eu, com os colegas novos, também faço o mesmo. Dou-lhes a mão e tento incutir-lhes isso".
Quando saiu do Hospital de Portalegre, confessa que "não me custou", porque "estava mentalizado em vir embora, saí por vontade própria e despedi-me de todas as pessoas".
No decorrer da sua carreira, Palheta Mendes prestou apoio em várias áreas desportivas; esteve ligado durante cinco anos ao Estrela de Portalegre e 20 anos ao Clube Aventura na área de emergência, uma área que lhe permitiu correr o País de Norte a Sul, incluindo uma expedição a Marrocos; e pertenceu à direcção da Cruz Vermelha com quem ainda colabora quando é necessário.
Para além da prevenção em touradas e largadas, neste momento apenas em Portalegre, o enfermeiro adianta que a área formativa, que ainda efectua, lhe permite conhecer vários pontos do nosso Portugal e também fazer novas amizades, "o que é sempre bom".
"Gosto de tratar o doente e estar em ligação directa com ele"
Apesar de reformado do Hospital a vida de António Mendes continua activa. Para além dos Bombeiros de Portalegre, encontra-se também a trabalhar na Unidade de Cuidados Continuados da Beirã. Aqui, e em conjunto com os colegas, "tento que os utentes se sintam bem e em condições de ir para casa", declara.
Expressando que "tudo é possível porque tenho uma boa família que me compreende e me ajuda muito", o enfermeiro garante que, apesar de reformado, era "incapaz" de deixar de trabalhar na sua área. "Tenho de estar ocupado, gosto de tratar o doente e estar em ligação directa com ele e este é o meu maior estímulo", confessa, acrescentando que "até ter saúde nunca irei parar de ajudar aqueles que puder".
Recordando que tinha 40 anos quando se licenciou, uma vez que "quando comecei a trabalhar não haviam os estudos de hoje", Palheta Mendes deixa um conselho aos jovens para que "aproveitem as oportunidades de formação profissional que têm" e também para "irem para os Bombeiros que aprendem a ser homens". E confessa ainda que "se hoje em dia sou o que sou, devo a um monte de gente", nomeadamente à família, ao Hospital de Portalegre, à Escola Nacional de Bombeiros, ao INEM, aos Bombeiros de Portalegre e a muitas outras instituições da cidade com quem tem convivido, e aos amigos. Por fim, deixou um "bem haja em memória da pessoa Dr. Amorim Afonso, uma das muitas pessoas com quem gostei de trabalhar".
Convívio de amigos
No dia 8 de Setembro, os amigos, do Hospital e não só, vão organizar um jantar comemorativo da jubilação de Palheta Mendes.
Apesar de assumir que "não ligo muito a festas", o enfermeiro não esconde a sua satisfação, assumindo que este será um dia de "convívio e recordações". Palheta Mendes confessa ainda que se sente "orgulhoso" com este jantar, dado que "é o limiar de uma actividade que sempre tive gosto de ter". Na sua opinião, "uma das coisas que faz com que um indivíduo seja realizado numa profissão é o gosto que tem por ela e eu sempre gostei muito de ser enfermeiro".
Catarina Lopes in "Fonte Nova" - 5/9/2009