Palheta Mendes - Um
exemplo de dedicação à causa pública
Profissional altamente
qualificado é exemplo de dedicação à causa pública e à sua profissão,
destacando-se ainda, a sua participação nas mais diversas actividades, de forma
graciosa, das quais se destaca a sua colaboração com os Bombeiros Voluntários
de Portalegre.
Nasceu em Nisa em 1953
mas, aos 20 anos de idade, trocou a sua terra natal por Portalegre. É na
capital de Distrito que reside já lá vão 36 anos. No entanto, nunca colocou de
parte as suas raízes e é ainda uma das pessoas que compra o jornal da terra
para "saber as novidades", apesar de lá não ir, apenas de vez em
quando, para visitar a mãe.
Confessando que se
sente "mais de Portalegre do que de Nisa", até porque "foi a
minha cidade de acolhimento e gosto muito desta terra", António Palheta
Mendes recorda que começou a trabalhar em 1973 na Misericórdia, em Portalegre. Acabou
por ter que cumprir serviço militar no Ultramar, trabalhando no Hospital
Militar de Luanda, onde esteve também nos Cuidados Intensivos. Note-se que, na
altura, este foi o primeiro serviço do país a trabalhar em hemodiálise.
Nos finais de 1975,
Palheta Mendes regressa a Portalegre e, no Hospital, foi colocado nos Serviços
de Especialidades, mas pouco tempo. Desde essa data que o Hospital foi a sua
"segunda casa". Aqui trabalhou em vários serviços, como o Banco de
Urgências, onde esteve sete anos. Segundo revela, foi esta área que o fez
"despertar" para a emergência nos bombeiros. "Já tinha o bicho dos
bombeiros porque o meu pai e o meu tio já tinham exercido esta profissão e, em
Portalegre, a convide do comandante Belo Morais e do 2º comandante na (altura
Vítor Bucho) fui convidado a ingressar na corporação da cidade", conta.
Depois do Banco passou
para o Serviço de Medicina Homens durante cinco anos, regressou novamente ao
Banco durante perto de oito anos e há 14 anos que trabalhava nos Cuidados
Intensivos, último serviço que efectuou no Hospital até se reformar.
O enfermeiro admite
que, ao longo da sua vida profissional, teve "experiência boas, onde
aprendi várias coisas". Com mais quatro colegas, formou o plano de
emergência do Hospital e foi a partir daqui que nasceu a formação do pessoal do
Hospital na área da emergência, suporte básico e do plano de evacuação.
A formação foi sempre
uma área que António Palheta Mendes gostou. Fez a integração de muitos colegas
nos vários serviços por onde passou no Hospital de Portalegre, pois "os
chefes delegavam-me essas funções".
Actualmente, a formação
continua a fazer parte da sua vida, com excepção do Hospital. No entanto,
"fiquei como pertencente à bolsa de formadores e assim, quando for
necessário, têm a minha ajuda nesse campo", revela o enfermeiro,
salientando que "quando ajudei a fazer formação não foi com interesse
monetário, mas com interesse formativo, para ajudar a própria
instituição".
Palheta Mendes revela
ainda que, no Hospital, não fez especialidades, apenas na área da emergência,
onde frequentou um curso de enfermeiro no INEM, o que lhe permitiu ingressar na
área de emergência e nos Bombeiros, onde ainda permanece. Na corporação de
Portalegre é enfermeiro e equiparado a oficial de Bombeiro e dentro em breve
irá frequentar um curso para ficar como oficial de Bombeiro.
"Nunca gostei de
tratar ninguém por tu"
Assumindo que foi uma
pessoa que "sempre pactuei em nunca fazer a diferenciação das pessoas, mas
sim tratá-las por igual", tanto no Hospital, como nos Bombeiros, Palheta
Mendes afiança que é por essa razão que é conhecido.
O respeito pelo próximo
foi outra das linhas que fez parte da sua vida. "Nunca gostei de tratar
ninguém por tu, o que tem a ver com a educação que temos, porque a nossa
população é maioritariamente envelhecida e os idosos não gostam de ser tratados
por tu", justifica.
Ao longo dos anos, o
enfermeiro fez várias amizades, até porque segue uma conduta de "falar com
todas as pessoas e respeitá-las". Confessando que, nas Urgências e nos
Cuidados Intensivos, "tive muitos casos críticos pelas mãos", Palheta
Mendes garante que "nada me chocava". Uma decisão que tomou na sua
vida é que "não levo os problemas para casa". "Quando acabo de
fazer um acidente grave faço um briefing como forma de modelar o que correu bem
e mal e quando acabo a tarefa não levo para casa", afiança, acrescentando
que tenta sempre transmitir aos seus formandos o respeito e a não discriminação
pelos doentes.
Debruçando-se ainda
sobre a sua actividade profissional, o enfermeiro revelou que "na
profissão temos os pais e os filhos". Assim, explica que "os pais são
aqueles que nos deram a mão para sermos modelados de uma maneira que a
profissão prossiga com bons elementos e como fui modelado por colegas antigos
que me tentaram incutir na actividade o bem-estar das pessoas e o bom convívio
entre os colegas, eu, com os colegas novos, também faço o mesmo. Dou-lhes a mão
e tento incutir-lhes isso".
Quando saiu do Hospital
de Portalegre, confessa que "não me custou", porque "estava
mentalizado em vir embora, saí por vontade própria e despedi-me de todas as
pessoas".
No decorrer da sua carreira,
Palheta Mendes prestou apoio em várias áreas desportivas; esteve ligado durante
cinco anos ao Estrela de Portalegre e 20 anos ao Clube Aventura na área de
emergência, uma área que lhe permitiu correr o País de Norte a Sul, incluindo
uma expedição a Marrocos; e pertenceu à direcção da Cruz Vermelha com quem
ainda colabora quando é necessário.
Para além da prevenção
em touradas e largadas, neste momento apenas em Portalegre, o enfermeiro
adianta que a área formativa, que ainda efectua, lhe permite conhecer vários
pontos do nosso Portugal e também fazer novas amizades, "o que é sempre
bom".
"Gosto de tratar o
doente e estar em ligação directa com ele"
Apesar de reformado do
Hospital a vida de António Mendes continua activa. Para além dos Bombeiros de
Portalegre, encontra-se também a trabalhar na Unidade de Cuidados Continuados
da Beirã. Aqui, e em conjunto com os colegas, "tento que os utentes se
sintam bem e em condições de ir para casa", declara.
Expressando que
"tudo é possível porque tenho uma boa família que me compreende e me ajuda
muito", o enfermeiro garante que, apesar de reformado, era
"incapaz" de deixar de trabalhar na sua área. "Tenho de estar
ocupado, gosto de tratar o doente e estar em ligação directa com ele e este é o
meu maior estímulo", confessa, acrescentando que "até ter saúde nunca
irei parar de ajudar aqueles que puder".
Recordando que tinha 40
anos quando se licenciou, uma vez que "quando comecei a trabalhar não
haviam os estudos de hoje", Palheta Mendes deixa um conselho aos jovens para
que "aproveitem as oportunidades de formação profissional que têm" e
também para "irem para os Bombeiros que aprendem a ser homens". E
confessa ainda que "se hoje em dia sou o que sou, devo a um monte de
gente", nomeadamente à família, ao Hospital de Portalegre, à Escola
Nacional de Bombeiros, ao INEM, aos Bombeiros de Portalegre e a muitas outras
instituições da cidade com quem tem convivido, e aos amigos. Por fim, deixou um
"bem haja em memória da pessoa Dr. Amorim Afonso, uma das muitas pessoas
com quem gostei de trabalhar".
Convívio de amigos
No dia 8 de Setembro,
os amigos, do Hospital e não só, vão organizar um jantar comemorativo da
jubilação de Palheta Mendes.
Apesar de assumir que
"não ligo muito a festas", o enfermeiro não esconde a sua satisfação,
assumindo que este será um dia de "convívio e recordações". Palheta
Mendes confessa ainda que se sente "orgulhoso" com este jantar, dado
que "é o limiar de uma actividade que sempre tive gosto de ter". Na
sua opinião, "uma das coisas que faz com que um indivíduo seja realizado
numa profissão é o gosto que tem por ela e eu sempre gostei muito de ser
enfermeiro".
Catarina Lopes in
"Fonte Nova" - 5/9/2009