Percursos Pedestres: um Guia por completar!
A edição de uma qualquer obra
literária ou simples manuscrito, é sempre uma acção positiva e de louvar se a
finalidade for preservar, oferecer ao presente e legar ao futuro algo com
interesse para o concelho de Nisa ou seus habitantes.
Um bom exemplo é toda aquela vasta
e valiosa colectânea literária exposta na Biblioteca Municipal, cerca de trinta
títulos, quase todos eles de autoria de nisenses e que têm em comum, nos
variados temas abordados, fruto de vivências, muito trabalho e experiência adquirida,
a necessidade sentida de transmitir e partilhar o saber herdado.
Mas, também, nesta temática, há
que ter cuidado, iniciada uma qualquer “caminhada” há que seguir em frente e
terminá-la, retroceder ou parar pode não ser bom, inadequado, injusto até.
Uma edição verdadeiramente
interessante e bem útil foi o “Guia de Percursos Pedestres” de Nisa, promovida
pelo actual executivo camarário, vão quase cinco anos (2005).Mas, e não poucas
vezes há sempre um “mas”, se nada há a opor no aspecto gráfico, já no conteúdo
informativo nos parece haver falta de moderação, que vai sendo um vício por
todo o lado, mas pior, bem pior, são as omissões ao quão de importante temos
por ali, no espaço já contemplado pelos “Guias”, que nada ajudam o “turismo”
que se vai invocando quase diariamente. Descuido? Outra razão? Ultrapassa-nos.
Direitos de autor por certo não lhes seriam exigidos.
Não é correcto, por injusto,
deixar o trabalho a meio, com as consequências negativas que daí advêm,
divulgando uma fracção apenas do todo que é o concelho de Nisa. Cinco anos
volvidos é tempo de completar a “caminhada”, promovendo a edição dos documentos
ainda em falta, referenciando todo o valioso património ocultado.
Observe o leitor um qualquer mapa
do concelho de Nisa e experimente traçar uma linha ligando o Percurso nº 1
(Trilhos de Jans – Amieira do Tejo) ao Percurso nº8 ( Trilhos do Moinho Branco
– Montalvão).
Por certo vai constatar o
seguinte: naquele espaço, a Norte, estão lá todos os “Percursos” editados (8),
nada havendo que contemplar a Sul, espaço mais amplo, divulgando o valioso
património existente e visível por aí.
As freguesias do Espírito Santo,
Nossa Senhora da Graça, Arez, S. Matias, Tolosa e Alpalhão, têm um acervo
patrimonial e paisagístico de grande importância, onde se vêem em quantidade,
igrejas e ermidas, passadeiras nos ribeiros e também moinhos, pontes e fontes,
furdões e barragens, antas, menires, sepulturas nas rochas e vias muito, muito
antigas, de antes da nacionalidade portuguesa.
Vias por onde transitaram e transitam
ainda tantos povos nossos parentes, fossem eles lusitanos, romanos ou
sarracenos, peregrinos em romagem ou simples caminhantes de agora.
Bem, depois há a história dos
sítios, das vilas e das aldeias, que não consta lá e é riquíssima, como é até
mesmo aquelas que lá constam, nos Percursos já editados.
Mãos à obra, termine-se a
“caminhada” iniciada, dando a todas as freguesias do concelho, sobre a forma de
“Percursos”, a importância patrimonial e histórica que, efectivamente, têm.
Mais do que uma necessidade é um
acto de justiça.
João Francisco Lopes in "O
Distrito de Portalegre" (2009)