Em
Nisa noutros tempos chegaram a ser mais de trinta tabernas, hoje apenas restam
quatro, todas elas ainda mantendo as suas características antigas: portas “vai
e vem” com vidros às cores, balcão de madeira, torneira para lavar os copos,
“esquenho” ou banco corrido para os clientes se sentarem, faltando apenas as
barricas de madeira ou os potes de barro, porque o aprovisionamento do vinho,
agora, é feito em garrafões.
Na
realidade, é triste ver-se desaparecer estas riquezas típicas que noutros
tempos faziam parte do nosso património cultural, por isso as restantes merecem
ser salvaguardadas, pedindo aos seus proprietários ou a alguém de direito, que
as preservem o mais tempo possível, porque as “tascas” também são um ex-libris.
Quem
é que não se lembra das “sortes” (inspecção militar), ou dos casamentos à moda
de Nisa, quando os homens as visitavam, todas, ao som da concertina do Zé
Casimiro ou do Manel Bicho, onde o fandango e as desgarradas eram permanentes
nesses dias festivos?
As
tabernas já foram um lugar de convívio, onde se podia jogar ao bêlho (fito),
hoje proibido pela lei local, não esquecendo que, com esta decisão legal,
perdeu-se uma das poucas tradições e não só, como também o negócio dos
taberneiros começou a fraquejar.
Ali,
nas tabernas, entravam ricos e pobres, poetas populares e doutores. Contavam-se
histórias, chorava-se, ria-se, cantava-se, dançava-se, desabafava-se das
alegrias e das tristezas ou das mágoas e dos desgostos, até se arranjava
trabalho ou pagavam-se as dívidas. Faziam-se desfaziam-se negócios.
Ali
se sabiam, também, as novidades mais íntimas e sentimentais de cada um, por
vezes também havia zaragatas, quando os copos de “ametade”” começavam a subir à
cabeça.
Era,
na realidade, um local de “mata-bicho”, logo pela manhã cedo. Alguns não se
davam por rogados e pediam: “venham lá mais uns “tintóles” aqui para nós e
assenta aí no livro que eu logo venho pagar”.
O
taberneiro servia a rodada, sempre acompanhada de umas “línguas de gato” ou de
uns tremoços, nunca se esquecendo do lápis de dois bicos, que usava atrás da
orelha.
Num
daqueles momentos espreitava à porta a mulher de um dos clientes, chamando o
marido e avisando-o para que não gastasse a “jorna” da semana, porque isso era
frequente naquele tempo.
Um,
mais curioso, perguntava ao taberneiro: “onde é que foste ver desta “pomada”
que é mesmo de “arromba”?
Outro,
dizia: “serve lá mais uns copos à gente e dá aí um pirolito ao cachopo!”.
Esta
crónica é a título de homenagem ao ti Aníbal Chapim, Manuel Siopa, Zé
Bugalhinha e ao senhor António Tigelinhas, com a esperança de que eles possam
preservar este património, ainda por muito tempo.
Agora,
deixo-vos com uma anedota.
“Um
bêbado lê no jornal que um camelo pode trabalhar oito dias seguidos sem beber e
diz-lhe outro amigo do copo: É curioso, eu sou exactamente o contrário, pois
posso beber oito dias seguidos sem trabalhar!”.
António Mourato (Conixa)